Pesquisa contesta queda da obesidade infantil nos Estados Unidos

A queda da obesidade infantil nos Estados Unidos, que fora identificada em uma pesquisa publicada em fevereiro da revista da Associação Médica Americana, pode não corresponder à realidade. Ao ampliarem o período de análise de dados do Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, verificaram que a queda pode ser ilusória. O trabalho foi publicado em abril, na JAMA Pediatrics, revista editada pela mesma associação.

Desde a década de 1970, a obesidade vem crescendo entre os habitantes daquele país – estima-se que, atualmente, 17% dos norte-americanos com idade entre dois e 19 anos sejam obesos, taxa que estava em 5% no começo da década de 1970. Agora acreditava-se que as taxas estivessem estabilizadas e o estudo publicado em fevereiro apontava queda da taxa entre as crianças. Ao contestarem os dados, os cientistas da Carolina do Norte reacenderam os debates sobre o tema.

O estudo deles ampliou o prazo para 14 anos e constatou pico incomum de obesidade entre as crianças no ano de 2003, dado que teria dado a falsa aparência de posterior declínio na pesquisa divulgada em fevereiro. “Quando vemos o cenário maior, não existe mudança”, explicou Ashley Skinner, professora assistente de pediatria da Universidade da Carolina do Norte e principal autora do estudo. “Quero que isso continue sendo uma questão de saúde pública”, acrescentou.

Já os pesquisadores federais (responsáveis pela análise original, publicada no periódico) defendem seus resultados. O estudo constatou que 8% das crianças de dois a cinco anos estavam obesas em 2012, contra 14% em 2004 – o primeiro declínio estatisticamente significativo.  Na época, Cynthia L. Ogden, principal autora do estudo e epidemiologista do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), enfatizou que o resultado deveria ser interpretado com cautela porque a faixa etária representa fração minúscula da população norte-americana.

Ruth Loos, professora de medicina preventiva do Mount Sinai Hospital, em Nova York, ponderou que o motivo para os estudos chegarem a conclusões diferentes é simplesmente o de que, em 1999 (ano usado pelo estudo da Carolina do Norte como ponto inicial), o índice de obesidade era de 10% naquela faixa etária. O estudo do CDC começou com dados de 2004, quando a taxa ficava ao redor de 14%. “Os dois estudos reportam basicamente os mesmo dados e usam testes similares. A diferença na conclusão se deve ao ponto inicial diferente”, concluiu.

Para Jeffrey P. Koplan, professor de medicina e saúde pública da Universidade Emory, em Atlanta, os dados conflitantes não alteram a situação geral. “A moral da história é que os números da obesidade ainda são enormes”, afirmou. “Podem existir lugares isolados onde ocorrem declínios, mas é muito difícil interpretar isso até termos mais dados. Do ponto de vista da saúde pública, o debate não muda o que devemos fazer”, argumentou.

Com informações do UOL Ciência e Saúde/The New York Times – 21.4.14

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