ABIAD entrevista o Dr. Luis Madi, Diretor de Assuntos Institucionais do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
1) A Food Insigths apontou maior confiança dos consumidores na origem dos alimentos. Como isso afeta o setor industrial?
Não é só a Food Insights que apontou isso, mas também o Center for Food Integrity (CFI), o International Food Information Council (IFIC), a Nielsen e o Food Think. Todos eles mostram uma recuperação na credibilidade da indústria de alimentos e bebidas, o que não é muito difícil de entender, considerando que um dos grandes questionamentos da população, talvez o maior, está relacionado à transparência: os consumidores querem obter informações sobre o que as empresas estão fazendo e as empresas começaram a perceber e trazer de maneira mais adequada esse esclarecimento.
Aliás, durante a Anufood Brazil, que acontece de 9 a 11 de março, nós lançaremos em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) a publicação A Indústria de Alimentos 2030 – Ações Transformadoras em Valor Nutricional dos Produtos, Sustentabilidade da Produção e Transparência na Comunicação com a Sociedade. O documento reúne o que 18 empresas estão fazendo em relação ao valor nutricional de seus produtos, à sustentabilidade, como redução de água, de energia e de emissões, e à comunicação responsável junto ao consumidor.
2) Podemos dizer que é uma tendência vantajosa para o setor de alimentos industrializados?
Com certeza é. Na realidade, trata-se de uma consequência das ações feitas pelas indústrias de alimentos e bebidas ao longo dos últimos anos. O consumidor começa a enxergar melhor as atividades que as empresas estão fazendo, especialmente em relação ao valor nutricional e à sustentabilidade, considerados os principais eixos de interesse e atuação de toda a próxima década.
3) Como a rotulagem dos alimentos industrializados pode aumentar a confiança dos consumidores?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela regulamentação da rotulagem de alimentos e bebidas no Brasil, iniciou em 2014 um processo para implantar um padrão de rotulagem frontal, que ainda não existe, e modificar a atual rotulagem nutricional, exigindo complementação de informações na tabela nutricional em vigor. No entanto, nem tudo o que o consumidor quer saber será possível transmitir somente por meio da rotulagem, como os processos de fabricação e detalhes sobre sua origem. Então é preciso estabelecer em paralelo uma melhor comunicação, para que haja maior confiança.
4) O trabalho da ABIAD com a Anvisa tem sido intenso, principalmente em assuntos de rotulagem e regulamentação. Podemos considerar como fator positivo ter empresas trabalhando com a Anvisa?
Nós, que temos participado de algumas reuniões com a Anvisa e as empresas, não temos dúvidas. O Brasil precisa evoluir para além do pensamento de que a agência é do governo e não tem que ouvir a indústria. Ela tem que trabalhar em conjunto com as empresas de nutrientes, ingredientes, alimentos e bebidas para entender os processos e a realidade, e assim legislar e regulamentar da maneira mais adequada e coerente possível.
5) Quais as principais tendências para a tecnologia de alimentos em 2020 e como vão afetar o consumidor final?
Estamos comemorando os 10 anos do lançamento do estudo Brasil Food Trends 2020, em que levantamos as cinco macrotendências que continuarão em evidência por mais 20 a 30 anos: sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar, conveniência e praticidade, confiabilidade e qualidade; e sustentabilidade e ética. A diferença é quem em 2010 estava mais em evidência a conveniência e a praticidade e, em 2020, saudabilidade e bem-estar, com destaque para sustentabilidade e ética, mais especialmente sustentabilidade, que será o foco principal entre 2020 e 2030 em linha com o que vimos no Fórum Econômico Internacional de Davos.
No estudo A Indústria de Alimentos, que vamos lançar, estarão as principais atividades de 18 empresas em relação à sustentabilidade e a ideia nossa é levantarmos e divulgarmos as ações de mais empresas em outras edições.
6) Pode nos falar um pouco mais sobre sua trajetória profissional e o trabalho do Ital?
Entrei no Ital em 2 de janeiro de 1973, assim que me formei engenheiro de alimentos. Assim que concluí mestrado na área de embalagem, passei a chefiar a recém-criada Seção de Embalagem e Acondicionamento (Semb), atual Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea), do qual fui diretor.
Em 2009 tornei-me diretor geral do Ital, até assumir a coordenação da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) entre 2004 e 2007 e voltei à direção do Ital até o fim de 2018. Desde então, sou diretor de Assuntos Institucionais, auxiliando a diretora geral, Eloísa Garcia, no papel da instituição de contribuir para a evolução da área de alimentos, bebidas e embalagens em benefício do consumidor e da sociedade.
Atualmente o Ital atua em três grandes blocos: segurança e qualidade, inovação de produtos e processos, e estudos estratégicos e de tendências. Estou mais envolvido nesse terceiro bloco, com o projeto Alimentos Industrializados 2030, com uma série de publicações e trabalhos mostrando a importância dos produtos alimentícios para a sociedade brasileira.
7) Tem algo a mais que gostaria de acrescentar sobre o tema?
Trabalho com as entidades setoriais desde 1988, quando ainda não tinham uma função tão estratégica como têm hoje, não só no desenvolvimento de produtos, como na inovação, na rastreabilidade, qualidade, sustentabilidade e ética. Vendo a evolução do trabalho desempenhado, parabenizo a ABIAD por ser uma entidade atuante, complementando de maneira significativa o desenvolvimento da indústria de alimentos para fins especiais no Brasil.