1. Para começar, você poderia definir o que é osteoporose e como ela afeta mulheres e idosos?
A osteoporose é definida como uma doença esquelética sistêmica caracterizada por baixa densidade e deterioração do tecido ósseo, mais comum em mulheres, com aumento da fragilidade óssea e suscetibilidade a fraturas.
Na mulher, o início da menopausa está associado a um declínio natural do estrogênio que aumenta a massa gordurosa visceral e diminui a densidade mineral óssea (DMO), a massa muscular e a força. O rápido declínio na DMO após a menopausa resulta em um risco aumentado de fraturas nos locais clássicos das vértebras, antebraço distal e fêmur proximal.
Muitos idosos perdem independência devido à mobilidade e fragilidade limitadas. O risco de fratura osteoporótica aumenta acentuadamente durante a sétima década de vida, e a prevalência da sarcopenia (perda de massa muscular e força) aumenta acentuadamente com o envelhecimento, o que também contribui para o risco de fraturas.
A osteoporose e a sarcopenia partilham de muitos fatores de risco semelhantes e causam, direta ou indiretamente, um aumento das limitações de mobilidade, quedas, fraturas e invalidez. Os ossos adaptam sua morfologia e força às cargas de longo prazo exercidas pelo músculo durante atividades físicas.
2. Em que medida fatores genéticos podem influenciar ou agravar a osteoporose?
Acredita-se que os fatores genéticos determinam até 80% do pico de massa óssea, com o restante influenciado por fatores ambientais, como exercício, tabagismo, medicação e nutrição.
A perda de massa muscular e força com o envelhecimento está associada a múltiplos fatores, incluindo proteína reduzida na dieta, resistência da síntese proteica muscular a estímulos anabólicos, baixa ingestão de vitamina D, atividade física reduzida e mulheres na menopausa.
3. É possível reverter ou prevenir a osteoporose em mulheres e idosos? Se sim, por quê?
Além da atividade física, boa nutrição, especialmente com proteína, cálcio e vitamina D, é importante para preservar a massa e força óssea em adultos e os idosos. A atenção à nutrição é um componente importante de um programa de reabilitação para pacientes que tiveram uma fratura osteoporótica. Em pacientes idosos frágeis que sofreram fraturas isso é crucialmente importante, visto que a nutrição inadequada pode retardar a recuperação e aumentar a suscetibilidade para novas fraturas.
Vale lembrar que a manutenção de uma alimentação balanceada, associada a exercícios de força muscular, pode reduzir o risco de osteoporose em até 50%. Em todas as fases da vida, a ingestão dietética adequada de nutrientes essenciais, incluindo cálcio, vitamina D e proteína, contribui para a saúde muscular e óssea, reduzindo o risco de quedas, osteoporose e fraturas na vida adulta.
4. Qual é a importância de nutrientes como cálcio, vitamina D, magnésio, fósforo e proteínas para a saúde óssea?
Para facilitar a compreensão, respondo cada categoria isoladamente:
Cálcio
O cálcio é importante para a resistência e saúde óssea ao longo da vida. Seu papel principal no organismo é estrutural, fornecendo a rigidez necessária para o esqueleto e dentes. Aproximadamente 99% do cálcio do corpo está nos ossos, e o mineral é necessário para o crescimento e desenvolvimento normais do esqueleto. A ingestão adequada de cálcio é crítica para atingir o pico ideal de massa óssea e diminuir a taxa de perda óssea associada ao envelhecimento.
Estudos epidemiológicos relatam que uma vida de altas ingestões de cálcio pode reduzir o risco de fratura em até 60%. Caso contrário, o osso é usado como uma fonte de cálcio para manter a concentração extracelular do mineral.
Leite e produtos lácteos são fontes ricas em cálcio na dieta e têm a vantagem adicional de fornecer proteínas e outros micronutrientes importantes para a saúde óssea e geral. Outras fontes alimentares de cálcio incluem vegetais verdes (como brócolis e couve), sardinhas e nozes. No entanto, alguns alimentos vegetais contêm substâncias que se ligam ao cálcio e impedem sua absorção, como oxalatos em espinafre e ruibarbo, e fitatos em feijões secos, cascas de cereais e sementes.
Vitamina D
A vitamina D atua no desenvolvimento e manutenção dos ossos, tanto por seu papel na absorção do cálcio da dieta, quanto por garantir a mineralização óssea. Em adultos, a deficiência grave de vitamina D leva à desmineralização do esqueleto, causando osteomalácia. Há um considerável corpo de evidências que aponta a deficiência de vitamina D como um importante fator na instalação da osteoporose.
Magnésio e Fósforo
Aproximadamente 60% do magnésio (Mg) no corpo está nos ossos. O magnésio influencia o metabolismo mineral indiretamente, através de seu papel no metabolismo do ATP e como cofator para mais de 300 proteínas, hormônios calciotrópicos e 1,25(OH)2D. O magnésio também influencia a saúde óssea ao melhorar a qualidade do osso, diminuindo sua fragilidade. A deficiência severa de magnésio pode resultar em estrutura óssea anormal, mas esse nível de depleção é raramente observado em populações bem nutridas. Boas fontes de magnésio incluem verduras, legumes, nozes, sementes, grãos não refinados e peixe.
A maioria do fósforo no corpo está presente como fosfato (PO4), com aproximadamente 85% nos ossos. Ele é um componente crítico de todos os organismos vivos e está presente em alimentos como laticínios, carne e peixe.
Proteínas
A proteína é um componente chave do tecido ósseo. Maiores ingestões de proteína estão associadas à melhora na densidade mineral óssea (DMO) e no metabolismo esquelético em idosos. Além disso, muitos alimentos ricos em proteínas, como carnes e laticínios, também são ricos em fósforo e potássio, ambos com um papel na modulação da perda urinária de cálcio.
Evidências crescentes sugerem que a ingestão diária recomendada (RDA) de 0,8 g/kg de proteína pode não ser ideal para a saúde óssea em idosos. Estudos indicam que uma ingestão de 1,0 a 1,3 g/kg de proteína por dia pode ser necessária para compensar a menor ingestão de energia e a resposta insulínica prejudicada em idosos. Ingestões de 1,0 a 1,5 g/kg de proteína por dia estão associadas à homeostase normal do cálcio sem alterar o metabolismo ósseo. Esses dados sugerem que aumentar a ingestão de proteína pode resultar em melhor saúde óssea em idosos.
Nesse sentido, a maioria das evidências científicas apoia os efeitos benéficos da ingestão de proteína na saúde óssea e destaca os riscos associados à insuficiência proteica e à desnutrição.
5. Para finalizar, poderia indicar os principais fatores que afetam a ingestão de proteínas em idosos e quais são as consequências disso?
Os mecanismos que influenciam a ingestão de proteínas em idosos são três: ingestão inadequada de proteína, conhecida como anorexia do envelhecimento; capacidade reduzida de utilizar a proteína disponível, que pode ser causada por resistência anabólica e redistribuição tecidual de aminoácidos; e uma maior necessidade de proteína devido a doenças inflamatórias.
Tanto a alta quanto a moderada ingestão de proteínas em idosos estão associadas à redução da mortalidade. Isso sugere que a ingestão proteica representando pelo menos 10% das calorias consumidas pode ser necessária após os 65 anos para prevenir a perda de peso e reduzir o fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-I), que é um mediador chave do crescimento ósseo.
Segundo um estudo que analisou o consumo alimentar de idosos na Pesquisa Nacional de Alimentação 2008-2009, o valor médio observado de ingestão de proteínas foi de aproximadamente 20%, o que está de acordo com as recomendações do Institute of Medicine. Essa constatação pode ser atribuída ao hábito alimentar brasileiro, cuja dieta é baseada no consumo de carnes, arroz e feijão, considerados fontes importantes do nutriente.