A análise do desempenho do setor de alimentos para fins especiais em 2023 na visão de Patrícia Marrone - Abiad

A análise do desempenho do setor de alimentos para fins especiais em 2023 na visão de Patrícia Marrone

20 de março de 2024

1. Quais fatores influenciaram na estabilidade do setor de alimentos para fins especiais em 2023, onde houve crescimento praticamente nulo em comparação com 2022?

O dinamismo desse setor está relacionado com a capacidade de penetração e diversificação de pontos de vendas no comércio (no lado da oferta) e depende do crescimento da renda da população (no lado da demanda).

Em 2023 o PIB brasileiro cresceu 2,9% ante o ano anterior. Entretanto, ocorreu, ao longo do ano, uma nítida desaceleração da economia, já que as taxas trimestrais de crescimento do PIB foram decrescentes ao longo dos trimestres, chegando a zero nos dois últimos, em relação aos anteriores, conforme se pode observar na imagem subsequente.

A Black Friday e o Natal mostraram-se bastante fracos para o comércio. Isso se refletiu nas vendas de bens de consumo em geral, incluindo os não duráveis.

Além disso, ao analisar a composição do PIB de 2023, observa-se um aumento de 3,0% no Valor Adicionado a preços básicos e de 2,1% no volume dos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios.

O resultado do Valor Adicionado, nesse contexto, refletiu o desempenho das três atividades que o compõem: Agropecuária (15,1%), Indústria (1,6%) e Serviços (2,4%).

Dentro do setor de Serviços, o Comércio registrou um crescimento de apenas 0,6%. Assim, o quase inexistente crescimento do setor de alimentos para fins especiais em 2023 acompanhou o fraco desempenho do comércio ao longo do ano.

O setor não conseguiu se beneficiar do avanço de 3,1% na Despesa de Consumo das Famílias em relação ao ano anterior, impulsionado pela massa salarial real, pela desaceleração da inflação e pelos programas governamentais de transferência de renda. Isso pode ser atribuído ao fato de que o consumo de produtos da cesta ABIAD é predominante entre as faixas de renda média-baixa a alta (ver Visão Geral da Conjuntura, n 62, 1° trimestre de 2024), e a inflação foi mais acentuada para esses estratos de renda.

Possivelmente, os significativos reajustes nos planos de saúde podem ter absorvido parte da renda disponível para o consumo de produtos relacionados aos cuidados pessoais da cesta ABIAD.

Outro fato que evidencia a diminuição do dinamismo econômico no Brasil foi o elevado número de empresas que encerraram suas atividades em 2023, conforme os dados do Mapa de Empresas do Governo Federal. O total de empresas extintas foi de 2.153.840, representando um aumento de 25,7% em relação a 2022, quando 1.712.993 empresas fecharam as portas.

As microempresas e as empresas de pequeno porte foram as mais afetadas, com 2.049.622 e 49.631 empresas encerradas, respectivamente. É possível que o fechamento de lojas de produtos naturais tenha sido influenciado pelo movimento mais amplo de encerramento de empresas.

Ainda quanto às atividades de maior preponderância nas empresas fechadas no ano de 2023, observa-se que representam número inferior às abertas para as mesmas atividades no período, apresentando saldo positivo.

Destacam-se, sobretudo, atividades econômicas de comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios; lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares; e comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios; que registraram números de fechamentos que superam a faixa de 70% em relação ao quantitativo de empresas abertas.

Além das pequenas empresas, grandes redes físicas e marketplaces, como Americanas e Magalu, também enfrentaram sérias crises em 2023.

2. O quanto esse setor é dependente do crescimento econômico nacional? Com base nisso, como podemos prever crescimento em 2024?

O ano de 2024 será bastante desafiador para o setor. Já é previsto que condições climáticas afetarão a agricultura, importante fator gerador de crescimento econômico no Brasil – Quebras de safra poderão exercer pressões de custos de produção na indústria de alimentos, reduzindo as margens de lucratividade das empresas.

Além das questões climáticas, a continuidade do declínio das taxas de crescimento econômico também poderá impactar a demanda.

3. Os complementos alimentares, suplementos vitamínicos e minerais estão entre os produtos de destaque de 2023. Por que eles apresentaram um desempenho superior em comparação com outros grupos de produtos?

Porque eles já foram incorporados na cesta de consumo do brasileiro no mercado interno, e o Brasil os exporta para outros países.

4. O que justifica o crescimento de 34% (entre 2028 e 2023) das bebidas dietéticas ou de baixas calorias bem acima da média do mercado de alimentos para fins especiais no acumulado de janeiro a dezembro de 2023?

A diversificação na oferta, exemplificada pelo desenvolvimento de novas bebidas à base de vegetais e lácteos, aliada ao bom desempenho do setor de serviços, proporcionou o aumento das vendas em bares e restaurantes.

5. Ano passado, esperava-se uma desaceleração no crescimento econômico global, devido aos conflitos políticos decorrentes das guerras. Existe uma diferença de conjuntura entre 2023 e 2024? Se sim, como ela deve interferir no desempenho do setor em termos de comercialização e fabricação?

Não há perspectiva de atenuação dos conflitos geopolíticos. Por isso, os fabricantes ABIAD precisam ficar atentos a riscos de rupturas em cadeias de fornecimento globais, dada a dependência de princípios ativos farmoquímicos, nutrientes, enzimas, substâncias bioativas e probióticos importados de outros países, necessários à fabricação local de produtos finais no Brasil.

Sobre isso, sugiro a leitura da minha tese de doutorado na Poli-USP que trata de modelos de decisão para a relocalização industrial de produtos farmoquímicos.

6. O ano de 2023 começou com as empresas “tirando o pé do acelerador” e observando o que seria o terceiro mandato do presidente Lula. Como você sente que 2024 começou?

O ano de 2024 continua conturbado jurídica e politicamente, o que já afeta as expectativas dos agentes, reduz a propensão a investir e impacta negativamente a economia em geral.

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