A nutrição é essencial para que crianças cresçam com imunidade e desenvolvimento físico adequados, de acordo com Mauro Fisberg  - Abiad

A nutrição é essencial para que crianças cresçam com imunidade e desenvolvimento físico adequados, de acordo com Mauro Fisberg 

14 de abril de 2023

1. Como deve ser a alimentação de uma criança e por que a variedade nutricional é importante especialmente nessa fase da vida? 

Na alimentação humana, é possível obter nutrientes por meio de diferentes fontes. Essa é uma variação incomum na rotina alimentar de outros animais. Os seres humanos são onívoros, o que os habilita a alimentarem-se de elementos da natureza, como animais e vegetais, ao passo que outras espécies dependem, na maior parte das vezes, de apenas uma fonte. 

A escolha alimentar é importante devido às preferências e aversões individuais por alimentos. Por isso, as crianças devem receber uma alimentação equilibrada e adequada em nutrientes para promover um crescimento saudável, desenvolvimento do sistema imunológico e garantir todas as funções corporais.   

As necessidades nutricionais das crianças não são as mesmas dos adultos, especialmente durante o período pré-natal, onde há um rápido desenvolvimento em um curto período. Após essa fase, a velocidade de crescimento varia de acordo com a idade, e as recomendações nutricionais também vão ser alteradas em função de condições individuais, como a intensidade das atividades físicas e até mesmo a apresentação de quadros de infecção. 

2. Por que há fases em que as crianças tendem a rejeitar certos alimentos e preferir outros mais específicos? Existe alguma explicação científica para isso? 

Sim. Normalmente, os seres humanos apresentam um fenômeno chamado de neofobia: medo de experimentar coisas novas e desconhecidas. Esse medo pode ser superado por meio da oferta segura de alimentos pelos cuidadores, que são os responsáveis pela alimentação das crianças. Elas comem o que seus pais também ingerem. Por isso, as reações emocionais ou físicas negativas normalmente são sobrepujadas pelo reforço positivo dado pelos seus cuidadores.  

No entanto, se esse período de neofobia persistir por muito tempo, pode levar a uma maior dificuldade em aceitar certos alimentos. Existem diversas situações que tendem a interferir na aceitação ou não de certos alimentos, como fatores clínicos, comportamentais e do ambiente em que essas crianças estão inseridas.   

Tais fatores podem diminuir ou aumentar o apetite delas e variar de acordo com fases de maior aceleração de crescimento, onde se demandam mais ou menos nutrientes. Por exemplo, no primeiro ano de vida, as crianças ganham uma grande quantidade de peso por dia. Ao final do ano, ocorre uma desaceleração rápida, onde a velocidade de crescimento e a ingestão também diminuem bastante. Essas são condições fisiológicas que devem ser levadas em conta na hora de oferecer alimentos às crianças. 

3. O que pode ser feito para incentivar que as crianças adotem hábitos alimentares nutricionalmente adequados? 

O exemplo dos pais é fundamental. Eles devem oferecer e ingerir alimentos saudáveis, tendo uma atitude positiva em relação à alimentação, adotando uma postura autoritativa, porém não autoritária. Afinal, é importante responder adequadamente às demandas da criança e exercer influência, expondo os alimentos de maneira apropriada. 

O conhecimento de técnicas adequadas de introdução dos alimentos, como a consideração de temperatura, olfato e sabor pode favorecer a aceitação destes pelas crianças.

4. De que forma uma nutrição inadequada pode interferir no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças?  

Essa é uma preocupação compartilhada tanto pelos pais quanto pelos profissionais de saúde. Enquanto os pais se preocupam com o bem-estar geral de seus filhos, incluindo o crescimento e o relacionamento social, os profissionais da saúde estão mais preocupados, primeiramente, com a imunidade, o crescimento e o desenvolvimento físico adequados.  

É importante ter em mente que uma alimentação insuficiente em termos de tempo, quantidade e variedade pode levar à carência de nutrientes e até mesmo a problemas de saúde mais graves. A falta de nutrientes, micronutrientes (como as vitaminas e minerais) e as proteínas pode trazer impacto significativo no crescimento, desenvolvimento, imunidade e vida social da criança.   

Além disso, na área cognitiva, os nutrientes desempenham um papel crucial em várias áreas. Micronutrientes como ferro, cálcio, cobre e zinco, por exemplo, são importantes para o desenvolvimento cognitivo e estão relacionados à memória, inteligência, abstração, capacidade de resolução de problemas e até adaptabilidade da criança ao ambiente em que vive. 

Quando há deficiência desses minerais, a criança apresenta maior probabilidade de alterações cognitivas e risco aumentado de desenvolver problemas a longo prazo. No entanto, é importante salientar que essa relação não é causal ou direta. A insuficiência de um nutriente não necessariamente implica em desenvolvimento de problemas cognitivos.  

5. E sabendo destes riscos, seria possível monitorar o estado nutricional delas e garantir que estejam recebendo todos os nutrientes necessários? Como? 

Quem faz esse monitoramento é o pediatra, o profissional responsável por realizar o primeiro contato e monitorar o crescimento da criança ao longo do tempo, avaliando marcos do desenvolvimento e quadro clínico. Depois, nutricionistas e demais profissionais também participam.  

De um modo geral, acompanhamos o estado nutricional das crianças por meio de medidas antropométricas e da utilização de análise da ingestão, como os recordatórios de alimentação, registros alimentares e interrogatórios, métodos que podem auxiliar na identificação de condições indicativas de risco e deficiência nutricional. Estas podem ser comprovadas por exames bioquímicos e de imagem, tais como hemogramas e dosagens sanguíneas de micronutrientes, como vitaminas e minerais (por ex. o ferro e cobre). Assim, é possível trabalhar preventivamente com o risco e as consequências da deficiência nutricional. 

  6. Há algo mais para acrescentar sobre o tema? 

Apenas gostaria de lembrar que o ser humano é dotado da incrível habilidade de escolher e ampliar sua fonte de nutrição, o que permite uma grande variedade de opções para suprir as suas necessidades nutricionais.  

Desde os tempos mais antigos, nossa espécie tem modificado os temperos e as preparações culinárias com o objetivo de tornar os alimentos mais saborosos e atraentes. Os temperos, por exemplo, são uma ferramenta valiosa para garantir a aceitação de alimentos pelas crianças. Não devemos ter medo de experimentar e inovar com elas. 

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