Thiago Barros, nutricionista
Ovo, carne de porco e óleo de soja têm algo em comum: já foram considerados vilões da nossa saúde e, depois, redimidos e recolocados em seu devido lugar, o de alimentos importantes e saudáveis.
Essa situação ocorre várias vezes pela compreensão equivocada de pesquisas científicas ou pelo que se tem chamado de pseudociência, aquela que se intitula ciência, mas não trabalha com evidências ou comprovações.
Pelo que percebo, o vilão da vez é, ou estão tentando fazer ser, o adoçante. Talvez isso aconteça para perdermos o foco das questões realmente importantes quando se fala de alimentação e nutrição.
O fato é que, até o momento, desconheço estudos científicos sérios, bem-feitos e confiáveis que concluam que os adoçantes são um risco à saúde. Ao contrário, todos indicam que ele é um eficaz substituto do açúcar na dieta de pessoas que querem perder ou controlar peso, ou ainda precisam controlar os níveis de glicemia.
Uma recente publicação da OMS – Organização Mundial da Saúde baseada na revisão de diversos estudos já publicados anteriormente, gerou comoção nacional ao ser interpretado como uma recomendação efetiva para as pessoas pararem de consumir adoçantes. Ao se analisar o apanhado de estudos com atenção, percebemos que não há nada de novo e, ao contrário do que se alardeou, o documento mostra que é seguro e pode ser uma estratégia complementar para redução de peso, além de que os estudos que tentaram demonstrar alguma insegurança apresentam baixo rigor científico.
Assim como nunca se provou que adoçantes causam aumento de peso, celulite, problemas intestinais, aumento da fome ou da vontade comer doce, em seres humanos.
Assim como não há pesquisas que apontem que haja um adoçante melhor do que o outro. O que recomendo é utilizar aquele que mais lhe agrade o paladar, na mínima quantidade possível. Afinal, de doce já basta a vida.
E, mesmo se consumidos em excesso, ficam dentro da margem da IDA – Ingestão Diária Aceitável.
Além disso, existe a margem de segurança NOAEL (No Adverse Effect Level) como é o exemplo da sucralose, produto que um adulto pode consumir mais de 75 sachês por dia, todos os dias ao longo da vida e não apresentará danos à saúde.
Há pessoas que defendem que o ideal é simplesmente excluir o açúcar de nossa alimentação. Eu discordo por alguns motivos. Primeiro, porque nutrição é contexto. Ninguém come açúcar puro com a colher ou só açúcares… e há diversas estratégias simples de redução de danos num cardápio.
Segundo, do ponto de vista técnico, a mesma OMS no Guideline mundial da ingestão de açúcares para crianças e adolescentes traz que não há vantagem em reduzir a 0 vs 5-10-% das calorias totais.
Ou seja, a nutrição não precisa ser oito ou 80.
Concluindo, reforço que o adoçante não é um vilão da nossa saúde, ao contrário, tem agido muito bem no apoio a tantas pessoas que buscam alternativas ao açúcar e aos profissionais de nutrição para formular dietas e recomendações que consigam ter aderência por seus clientes.