Autor: Dra. Leila Hashimoto, nutricionista, doutora em Ciência dos Alimentos
Os diversos adoçantes disponíveis no mercado, seja para consumo em mesa ou para uso culinário, formam uma das categorias de aditivos alimentares mais conhecidas pela população.
São substâncias com a finalidade de auxiliar as pessoas a reduzirem o consumo de açúcar com o fornecimento de nenhuma, ou pouquíssima caloria. Na prática, são ingredientes que conseguem manter o prazer do sabor adocicado do alimento ou da bebida e contribuem para um estilo de vida mais saudável.
Resolvi escrever esse artigo porque vejo duas dúvidas comuns em meu consultório em relação à segurança de seu consumo.
Os adoçantes são seguros?
Essa é uma pergunta bastante recorrente e digo sem meias palavras que, sim. Adoçantes são seguros[1].
Como todos os novos aditivos alimentares, os adoçantes passam por um extenso e rigoroso processo desde sua descoberta. São etapas para os cientistas entenderem como a substância (o novo ingrediente) é formada e qual caminho percorre dentro do nosso organismo após sua ingestão.
Seguem-se algumas fases para se comprovar que não há toxicidade e, a partir de então, são realizados os testes em pessoas saudáveis e em grupos entendidos como vulneráveis, como diabéticos, gestantes e crianças com mais de dois anos de idade. São centenas de estudos[2] que, agrupados, atestam a segurança, de seu consumo em massa.
Aprovados nesses estudos, iniciam-se os processos de regulação, tendo a Anvisa como responsável no Brasil. E essas pesquisas são revalidadas periodicamente para se certificar que continuam seguros mesmo diante das novas evidências e pesquisas.
Mas eles podem causar câncer?
Essa dúvida surgiu também por conta de pesquisas cujas metodologias foram mal desenhadas. Nesse estudo, foi oferecido a um grupo de ratos uma quantidade enorme de um determinado tipo de adoçante, e observou-se uma incidência maior de tumores nesses animais. Essa quantidade de adoçante utilizada em ratos jamais se traduziria para algo possível de se consumir por um ser humano, pois seriam em nível de “quilogramas” de adoçante por dia. Além disso, o metabolismo de ratos é diferente dos humanos. Pesquisas posteriores realizadas em humanos com os mesmos adoçantes não relataram esse risco. Enquanto um adoçante estiver no mercado significa que ele foi extensivamente avaliado e é seguro para o consumo[3].
Cada adoçante possui seu valor específico de IDA (Ingestão Diária Aceitável), que é um valor que pode ser consumido diariamente ao longo de toda sua vida sem riscos à saúde. Para dar uma ideia de quanto esse volume é alto, a dose máxima recomendada para o consumo por um adulto correspondente à IDA é de 39 sachês de sacarina por dia, ou mais de 200 sachês de aspartame no mesmo período. Portanto, são quantidades extremamente altas e não são plausíveis de se alcançar facilmente pensando no que geralmente consumimos de adoçante por dia.
Resumindo, os adoçantes são produtos que trouxeram acesso à redução do consumo de açúcar, mantendo o sabor doce e a qualidade de vida com ganhos para saúde. Permite o convívio ao redor de uma mesa de pessoas com restrições ao açúcar e o apoio ao controle de doenças crônicas, como o diabetes, ou até mesmo de quem deseja controlar sua ingestão de calorias.
E dentre tantas opções do mercado, qual adoçante escolher? Essa escolha é sempre baseada na sua preferência pelo gosto e qual finalidade de uso.
[1] Os adoçantes não são alergênicos e são seguros para todas as pessoas, incluindo as gestantes, lactantes, crianças e idosos. Seu consumo é assegurado e monitorado por órgãos de saúde internacionais – International Sweeteners Association. Adoçantes de baixa caloria: Papel e benefícios. Setembro, 2018. Disponível em https://www.sweeteners.org/wp-content/uploads/2020/11/isa_booklet_september_2018_pt.pdf. Acesso em 07/11/2022
[2] Adoçantes são seguros para todas as pessoas – https://www.sweeteners.org/pt/os-adocantes-sem-ou-de-baixas-calorias-sao-seguros/
[3] Não existem evidências científicas consistentes que liguem o consumo de adoçantes de baixa/sem caloria ao câncer e não há indicação de que causem qualquer um dos principais tipos de câncer na população (ISA, 2021).
Martyn D, Darch M, Roberts A, et al. Low-/No-Calorie Sweeteners: A Review of Global Intakes. Nutrients 2018; 10(3): 357.
Food and Agriculture Organization of the United Nations. Chemical risks and JECFA. Disponível em: http://www.fao.org/food/food-safety-quality/scientific-advice/jecfa/en.
European Food Safety Authority. Sweeteners. Disponível em http://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/sweeteners.
Food and Drug Administration. High-Intensity Sweeteners. 19 de dezembro de 2017. Disponível em https://www.fda.gov/food/food-additives-petitions/high-intensity-sweeteners. Acesso em 07/11/2022.
International Sweeteners Association. Low/no calorie sweeteners are safe. 24 de março de 2022. Disponível em https://www.sweeteners.org/low-no-calorie-sweeteners-are-safe.