Agenda ESG dentro e fora do setor de alimentos para fins especiais aumenta probabilidade de sucesso dos negócios no futuro, aponta o especialista - Abiad

Agenda ESG dentro e fora do setor de alimentos para fins especiais aumenta probabilidade de sucesso dos negócios no futuro, aponta o especialista

24 de maio de 2024

1. Danilo, quando pensamos na construção de uma agenda de geração de valores em setores como o da ABIAD, quais estratégias deveríamos considerar para assegurar uma integração completa de todas as dimensões do ESG nessa agenda?

Em todos os setores, mais do que simplesmente identificar os temas a serem abordados, eu diria que compreender os processos de definição estratégica é o que garante a eficácia na construção de uma agenda ESG.

A utilização de mecanismos e ferramentas adequadas para agregar valor ao negócio e garantir a capacidade de operar no longo prazo é relevante nesse caso, pois promove maior resiliência organizacional, permitindo às empresas enfrentarem e prosperar diante das mudanças que ocorrem no ambiente externo.

Sendo assim, a avaliação de materialidade é uma ferramenta-chave que fornece uma visão abrangente dos riscos, oportunidades e impactos do negócio, alinhada com as perspectivas dos stakeholders, evitando estratégias instáveis e focando em ações que entreguem valor real.

No caso específico da ABIAD, temas como segurança dos alimentos e segurança alimentar são recorrentes, especialmente considerando o acesso aos alimentos em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Mas, de toda forma, somente uma análise de materialidade determinaria a abordagem mais eficaz para identificar e dizer como abordar esses desafios.

2. Pensando a longo prazo, quais são os riscos que as empresas correm caso não atendam à agenda ESG?

O que as estratégias ESG propõem é exatamente uma gestão de risco. Se as empresas não adotam uma agenda ESG, talvez possam continuar a existir no futuro, porém, enfrentarão dificuldades muito maiores, já que o acesso ao capital para financiar operações, seja por meio de dívida ou emissão de ações, tende a incorporar avaliações de risco que contemplam cada vez mais práticas sociais, ambientais e de governança.

Isso ocorre porque o mercado financeiro está progressivamente reconhecendo a importância desse conjunto de boas práticas, o que, em última análise, reduz o risco do negócio. Assim, há um prêmio no acesso ao capital para aqueles que adotam tais práticas, diferenciando as empresas que aderem ou não ao ESG.

Além disso, o próprio mercado está evoluindo em seu entendimento e amadurecimento, reconhecendo a inexistência de respostas únicas que sirvam para todos os setores e corporações. As questões relacionadas ao risco ambiental, por exemplo, variam de acordo com o setor e a empresa, e estão se tornando cada vez mais sofisticadas e específicas. Nesse cenário, as empresas precisam estar preparadas para responder a esses questionamentos de maneira adequada.

Em uma avaliação de risco tradicional, alguns fatores atuais podem não ser totalmente perceptíveis. A incorporação de uma agenda ESG estratégica possibilita justamente mapear atores que anteriormente não estavam no radar, mas que são relevantes no mundo real.

Ignorar esse exercício pode resultar em uma estratégia limitada e míope, com uma visão estreita. Portanto, a probabilidade de uma empresa sobreviver no futuro, com uma estratégia ESG, é muito maior do que sem ela.

3. O que tem influenciado na mudança de postura do consumidor, que agora está mais inclinado a buscar por marcas que comuniquem seus valores e adotem uma abordagem sustentável?

Antigamente, esperava-se que a função de uma marca fosse apenas entregar produtos de qualidade a preços justos. Hoje em dia, isso não é mais suficiente. Os consumidores querem não apenas produtos, serviços e qualidade a preços justos, mas também desejam que as empresas compartilhem dos mesmos valores que eles e que atuem ativamente na sociedade.

Algumas já reconhecem essa responsabilidade e entendem o poder que possuem na formação cultural. Afinal, as campanhas de marketing das grandes marcas influenciam muitos aspectos da cultura contemporânea O caso de algumas propagandas antigas de cerveja, que objetificavam as mulheres, ilustra isso.

Assim, se considerarmos nossa própria cultura e modo de comunicação, veremos que absorvemos muitas influências dessa área, que contribui para moldar percepções do que é belo, desejável e esperado em termos de comportamento. E, quando a sociedade chama a atenção para os problemas da vida real, as marcas respondem, o que prova que o engajamento dos consumidores está levando as marcas a perceberem e a assumirem mais suas responsabilidades.

4. Por fim, considerando para além da comunicação, você poderia discorrer sobre os indicadores, métricas e metodologias empregadas para mensurar o real e prático engajamento das empresas com o ESG?

Existem ferramentas disponíveis, porém, lidar com a sustentabilidade é algo complexo, uma vez que não há soluções simples para problemas tão intrincados. Como comentei na primeira pergunta, o verdadeiro valor está no processo em si.

Quando se compreende como o negócio se relaciona com os diversos temas, é possível estabelecer um plano de ação, gerenciá-lo e tornar esse processo tanto transparente quanto tangível.

Porém, identificar os temas é apenas o primeiro passo; em seguida, é necessário entender onde estão os principais impactos, riscos e oportunidades, para então desenvolver uma estratégia que trará resultados materiais e concretos.

Os indicadores desempenham uma função relevante nesse contexto, pois ajudam a avaliar o sucesso ou fracasso das ações. Por isso mesmo é tão importante selecionar os indicadores certos, que garantirão que a empresa esteja medindo as mudanças que realmente precisam ocorrer.

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