Os adoçantes conhecidos na indústria como edulcorantes são aditivos alimentares que possuem alto poder de adoçar, normalmente utilizados para substituir parcial ou totalmente o açúcar presente em alimentos industrializados.
Inicialmente, seu uso era destinado à produção de alimentos ou bebidas diet indicados para diabéticos, que precisam retirar ou controlar o consumo de açúcar da dieta, e, também, indicado para o tratamento da obesidade.
Contudo, com a utilização massiva de edulcorantes pela indústria em diversos alimentos e bebidas nas suas versões light, diet e zero, hoje em dia é muito fácil encontrar pessoas sadias utilizando esses produtos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) cerca de 35% da população em geral consomem algum tipo de produto dietético, sendo o campeão de consumo o refrigerante zero.
Desta forma, para que os adoçantes não tragam risco à saúde é preciso conhecer os seus limites de consumo diário recomendados e não os ultrapassar. Esses limites são estabelecidos através de muitos estudos científicos que comprovem a inexistência de efeitos adversos decorrentes do consumo de cada adoçante. A liberação de seu uso é feita pelo JECFA (comitê conjunto de peritos em aditivos alimentares da OMS e FAO) que avaliam os estudos e estabelecem a IDA (ingestão diária aceitável) de cada edulcorante, expressa em miligrama por quilo de peso corpóreo (mg/kg p. c.). No Brasil, a legislação sobre os aditivos alimentares segue os critérios adotados pelo JECFA, tanto para a liberação de um adoçante, quanto para a definição de limites de quantidade utilizados em alimentos e bebidas (RDC nº 18, de 24 de março de 2008).
Porém, a informação que o consumidor tem sobre a quantidade de adoçantes que consome é falha. Apenas as bebidas, que são regulamentadas pelo Ministério de agricultura, pecuária e abastecimento (MAPA), são obrigadas a informar nos rótulos a quantidade de edulcorante utilizado em 100 ml ou 100 mg do produto fabricado (Lei nº 8.918/94 e Decreto nº 2.314/97), já os alimentos (chocolates, gelatinas, barras de cereal, adoçantes de mesa) regulados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não possuem essa obrigatoriedade, dificultando muito para o consumidor avaliar sua ingestão diária, correndo o risco de ultrapassar a IDA.
Exemplo de cálculo da IDA:
A IDA do ciclamato é de 11mg por quilo de peso corpóreo, uma criança pesando 30 kg poderá consumir no máximo 330 mg de ciclamato por dia, e uma mulher pesando 50kg, 550mg. Consumindo 1 latinha de refrigerante zero, com 69,7 mg de ciclamato a cada 100ml de produto, a criança já atingiria 74% de sua ingestão máxima e a mulher já supriria 45% do seu consumo máximo, considerando apenas um único produto.
Em vista disso, mudanças na legislação brasileira sobre a rotulagem de alimentos são necessárias e alguns cuidados com a alimentação são aconselháveis:
Para ajudar nas suas escolhas, abaixo segue a tabela com as características e as IDAs dos edulcorantes aprovados pela ANVISA:
Tabela 1. Características dos edulcorantes aprovados pela ANVISA e sua IDA
Nome | Tipo | Características | Sabor | Poder Adoçante | Caloria (kcal/g) | IDA (mg/kg p.c.) |
Acessulfame K | Artificial, derivado de ácido acético. | Estável em altas temperaturas, é muito utilizado em bebidas, chocolates, geleias, produtos lácteos, gomas de mascar e panificação. | Sem sabor residual, tem doçura de fácil percepção. | 200 vezes maior que a sacarose (açúcar) | Zero | 15 |
Aspartame | Artificial, combinação dos aminoácidos fenilalanina e ácido aspártico. | Não pode ir ao fogo porque perde o poder de adoçar. Boa dissolução em líquidos quentes. Não pode ser consumido por pessoas com fenilcetonúria. | É o mais parecido com o açúcar. | 220 vezes maior que a sacarose (açúcar) | 4 | 40 |
Ciclamato | Artificial, derivado do petróleo. | Pode ir ao fogo, deve ser consumido com moderação pelos hipertensos pois contém sódio (ciclamato de sódio). | Possui sabor residual acre-doce | 40 vezes maior que o açúcar | Zero | 11 |
Frutose | Natural, encontrado nas frutas e mel. | Não deve ir ao fogo porque derrete, porém, mantém o poder de adoçar. Carameliza junto com outros adoçantes e pode dar corpo às receitas. | Sabor semelhante ao açúcar, porém um pouco mais doce | 170 vezes maior que o açúcar | 4 | Não estabelecida |
Lactose | Natural, extraído do leite. | É utilizado para reduzir a potencialização de outros adoçantes. | Parecido com o Açúcar, porém um pouco mais doce | 0,15 vezes maior que o açúcar | 4 | Não estabelecida |
Maltodextrina | Natural, extraído do milho. | Não adoça quando vai ao fogo. Misturado a outros adoçantes dá corpo à receita | Parecido com o Açúcar, porém um pouco mais doce | 1,5 vez maior que o açúcar | 4 kcal/g | Não estabelecida |
Manitol | Natural, encontrado em frutas e algas marinhas. | Estável em altas temperaturas. Uso somente industrial, geralmente associado ao sorbitol em bebidas, biscoitos, balas e chocolates. Pode ter efeito laxativo. | Sabor levemente refrescante | 0,45 vezes menor que o açúcar | 2,4 | Não estabelecida |
Neotame | Artificial, derivado do aspartame. | Pode ir ao fogo. | Não possui sabor residual. | 7.000 a 13.000 vezes maior que o açúcar | 2 | |
Sacarina | Artificial, derivado do petróleo. | Pode ir ao fogo. | Deixa gosto residual doce metálico | 300 vezes maior que o açúcar | Zero | 5 |
Sorbitol | Natural, extraído das frutas. | Não adoça quando vai ao fogo. É misturado a outros adoçantes, confere brilho e viscosidade a certas receitas, pode ter efeito laxativo. | Sabor levemente refrescante, parecido com o açúcar. | 0,5 vezes menor que o açúcar | 4 | Não estabelecida |
Stévia | Natural, extraído da planta Stevia Rebaudiana. | Pode ir ao fogo e realça o sabor dos alimentos. | Sabor residual semelhante ao do alcaçuz | 300 vezes maior que o açúcar | Zero | 4 |
Sucralose | Artificial, derivado da cana de açúcar. | Estável em altas temperaturas, utilizado em diversos tipos de alimentos. | Parecido com açúcar, não deixa gosto residual | 600 a 800 vezes maior que o açúcar | Zero | 15 |
Xilitol | Natural, extraído da xilose. | É utilizado por indústrias na fabricação de produtos dietéticos e de goma de mascar, pode ter efeito laxativo. | Sabor levemente refrescante, parecido com o açúcar. | Mesma capacidade adoçante que o açúcar | 4 | Não estabelecida |
Referências:
American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: use of nutritive and nonnutritive sweeteners. J Am Diet Assoc. 2004;104(2):255-75.
ABIAD, Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Dietéticos e para Fins Especiais. Adoçantes. Acesso em: 23/12/2016. Disponível em:
http://www.alimentosprocessados.com.br/arquivos/Ingredientes-e-aditivos/Adocantes-ABIAD.pdf
ABIAD, Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos Dietéticos, para Fins Especiais. O mercado diet e light. Outubro/2004. Acesso: 23/12/2016. Disponível em:
Evaluations of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA). Acesso em: 29/12/2016. Disponível em:
http://apps.who.int/food-additives-contaminants-jecfa-database/search.aspx?fc=66
JECFA – Monographs & Evaluations. Acesso em: 29/12/2016. Disponível em:
http://www.inchem.org/pages/jecfa.html
Revista do IDEC – De olho dos adoçantes. Abril 2015. Acesso em: 23/12/2016. Disponível em:
http://www.idec.org.br/uploads/revistas_materias/pdfs/197-edulcorantes1.pdf