1. Para começarmos, conte-nos sobre sua trajetória profissional. Como sua formação e experiências a levaram a conquistar seu atual cargo na Nestlé?
Sou nutricionista de formação e, por conta disso, inicialmente imaginei que seguiria na área assistencial, especificamente em nutrição clínica. De fato, foi assim que comecei minha carreira, atuando em hospitais públicos e também em instituições privadas, como o Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Nesse período, mergulhei na carreira acadêmica, ministrando aulas, participando de estudos clínicos, e contribuindo com a escrita de tópicos e livros importantes na área de nutrição clínica.
Minha trajetória tomou um novo rumo quando surgiu uma grande oportunidade na indústria farmacêutica. Comecei na Sandoz, que logo se fundiu com a Ciba Geigy para formar a Novartis. Essa experiência expandiu minha visão sobre o papel de um profissional de saúde, mostrando como um especialista pode agregar valor à indústria, utilizando o conhecimento adquirido no ambiente hospitalar para enriquecer conteúdos voltados tanto aos clientes quanto aos colaboradores.
Naquela empresa, nossa principal responsabilidade era introduzir uma nova categoria e portfólio de soluções, garantindo acesso às mais avançadas tecnologias em nutrição clínica, construindo um segmento que antes era restrito. A indústria, com essas novas tecnologias, realmente poderia oferecer o que há de melhor para os pacientes.
Essa transição foi, sem dúvida, uma grande mudança para mim. Comecei como representante de visitação, passei por assessora técnica e, ao longo do tempo, fui adquirindo habilidades organizacionais e de liderança, assumindo cargos de supervisão e gerência regional de vendas. Posteriormente, migrei para as áreas de marketing e planejamento estratégico, até que a Nestlé adquiriu o negócio de nutrição médica da Novartis.
2. A partir de sua entrada na Nestlé, houve experiências e conquistas interessantes que você poderia compartilhar?
Após a aquisição pela Nestlé, passei por um enorme aprendizado, pois os processos de change management são longos e desafiadores. Saí de uma empresa grande, com cerca de 2 a 3 mil colaboradores e líder no mercado farmacêutico, para outra muito maior, com cerca de 30 mil colaboradores, cujo principal objetivo é harmonizar suas operações com o mercado de nutrição, especialmente nutrição clínica.
Nessa empresa, ocupei várias posições, não apenas em marketing e planejamento, mas também precisei me familiarizar com o ambiente de vendas, que é bastante diferente. Não se trata apenas de farmácias, mas também de canais diversos, como supermercados e pequeno varejo, cada um com dinâmicas de vendas únicas. Assim, fui me capacitando para ser head de vendas, depois head do ambiente de negócios institucionais, até assumir a posição de head do Brasil e América Latina.
Quando analisamos o mercado e o segmento em que estamos mais envolvidos, é natural que surja a necessidade de desenvolver novos produtos e trabalhar com inovação. Tenho um grande apreço por esse pensamento estratégico voltado à inovação que implementamos.
Assim, contribuir para a aceleração e o desenvolvimento tem sido extremamente importante para mim como nutricionista, pois me permite oferecer aos consumidores soluções nutricionais realmente necessárias e implementáveis.
Outra experiência enriquecedora tem sido trabalhar com o envelhecimento da população e a longevidade. Considero fundamental integrar tecnologia e inovação nesse cenário, o que me proporciona grandes aprendizados e desafios estratégicos atualmente.
3. Falando sobre o setor de alimentos para fins especiais, quais são as áreas de atuação da Nestlé nesse mercado?
Além do setor de nutrição como um todo, hoje atuamos em diversas áreas, incluindo suplementos, alimentação infantil, produtos integrais e alimentos com restrições, como opções sem lactose ou com base em carboidratos ou gorduras específicas.
No entanto, muitos outros avanços podem surgir. Quando pensamos em inovações e diferenciações dentro da transformação dos alimentos, é possível que, no futuro, nosso portfólio de produtos e categorias se expanda significativamente.
Vejo, inclusive, que essa é uma área onde a própria ABIAD pode contribuir, orientando a indústria sobre como participar ativamente do setor e explorar novos ambientes e categorias
4. Falando nisso, como você avalia a parceria da ABIAD com a Nestlé e outras associadas? Em quais aspectos essa colaboração tem facilitado o crescimento do setor?
Acredito que as ações e iniciativas da ABIAD são fundamentais. Elas representam uma forma de consolidar aprendizados diversos, especialmente porque a Associação reúne diferentes tipos de associadas, cada uma focada em setores específicos. O mapeamento dessas associadas fortalece a ABIAD, não apenas em termos de representatividade, mas também na criação de sinergias de aprendizado entre diferentes categorias e perspectivas.
Dessa forma, os benefícios se estendem desde pequenas até grandes empresas, sempre com o objetivo de identificar novas oportunidades. Também, considero essencial a participação em discussões institucionais, junto a outras associações, para avaliarmos quais são as necessidades comuns e como podemos trabalhar de maneira sinérgica em setores complementares.
5. Para concluir, gostaríamos de conhecer um pouco mais sobre você. Quais são seus interesses culturais fora do ambiente profissional? Você tem algum livro favorito ou um podcast que sempre acompanha?
Eu sou apaixonada por esportes, um interesse que começou quando jogava tênis e que hoje mantenho com a prática de beach tênis. Recentemente, adorei acompanhar as Olimpíadas, especialmente ao ver como nós, mulheres, estamos ganhando espaço e aproveitando as oportunidades. Tenho muito orgulho da participação das brasileiras.
Sempre acompanho de perto o desempenho dos atletas, levando comigo os ensinamentos que o esporte proporciona, como persistência e resiliência – valores que admiro e aplico na minha vida.
Como recomendação, lançaram recentemente um novo podcast chamado New Balls, do Fernando Nardini e do Fernando Meligeni. Eles discutem o universo do tênis, mas também exploram o mundo dos esportes de forma geral. O podcast traz perspectivas dos técnicos, atletas e suas famílias, e fiquei surpresa com a profundidade das discussões.
Pessoalmente, acredito muito no esporte como uma ferramenta de transformação e inclusão, especialmente para as crianças. Ele ensina lições valiosas que se aplicam à vida corporativa, e é por isso que esse tema me interessa tanto.