A obesidade infantil e o diabetes são preocupações crescentes em todo o mundo. Para crianças com sobrepeso ou com obesidade, os adoçantes podem ajudar a reduzir a quantidade de calorias consumida ao substituir alimentos e bebidas açucarados, por não adicionarem calorias. Também permitem que crianças com diabetes consumam alimentos comuns, como bolos e refrigerantes, sem aumentar o nível de açúcar no sangue, permitindo que participem de eventos sociais, como aniversários, sem riscos à saúde e sem serem discriminadas.
Talvez você já deva ter ouvido que consumir adoçantes na infância possa condicionar crianças a desenvolver uma forte preferência por alimentos doces. Porém, as pesquisas mostram o contrário, a maior exposição pode levar à redução da preferência pela doçura, um conceito conhecido como saciedade sensorial específica. Os adoçantes não promovem o “gosto por doces” e podem ser incorporados com segurança às dietas sem estimular o desejo excessivo por doces. A principal influência para a preferência do gosto doce é genética.
Muitas pessoas ainda têm receio quanto à segurança dos adoçantes, mesmo sabendo que eles foram descobertos há muitos anos. Os adoçantes, assim como todos os aditivos alimentares são totalmente seguros. Para serem aprovados para consumo, precisam passar por várias etapas para que seja comprovada sua segurança. Desde a sua descoberta até a aprovação para uso nos produtos alimentícios são realizados testes em laboratório e em animais para avaliar se eles apresentam algum nível de toxicidade quando ingeridos. São avaliadas a forma como eles são absorvidos, e como se dá o trajeto que percorrem no organismo até a sua eliminação. Sim, porque todos os aditivos alimentares, inclusive os adoçantes, precisam ser eliminados, não podendo ter efeito cumulativo, ou seja, não podem permanecer no organismo. Isso significa que quando você consome adoçante, ele é eliminado do seu corpo; ou pela urina ou pelas fezes.
Para ser seguro, nenhum adoçante pode causar efeito colateral, ou seja, se um adoçante causar qualquer efeito no organismo, não será aprovado para consumo. Apenas os que passam em todos os testes são aprovados. Para determinar um valor seguro para a exposição humana de cada adoçante, vários níveis são testados. Cada um tem uma ingestão diária aceitável (IDA), que representa a quantidade máxima que pode ser consumida diariamente ao longo da vida com segurança. Para entender esse valor de segurança, podemos comparar o limite de segurança para os carros em uma determinada estrada. Os especialistas em segurança rodoviária, estabelecem que para dirigir com segurança numa determinada rodovia o limite deve ser de 100 km/hora. Esse valor de 100km/h significa que se você dirigir até essa velocidade, estará seguro. Pois bem, agora imagine que para deixar essa estrada ainda mais segura, o limite de velocidade passa a ser de 1 km/hora. Ou seja, eles dividiram a velocidade que já era segura por 100. E agora a velocidade máxima é de 1 km/hora, assim, caso você bata o carro não acontecerá absolutamente nada. Mesmo que você vá a 5 km, a 10 km ou a 50 km, ainda assim, não vai acontecer nada, porque está longe dos 100 km/hora. Essa é a mesma comparação que podemos fazer com o “valor de segurança” dos adoçantes. A IDA é o valor dividido por 100, que garante que mesmo que uma pessoa consuma uma quantidade muito grande de adoçantes, ainda assim, estará muito longe do valor de segurança determinado para cada tipo de adoçante.
Os cientistas da FAO/OMS (Food Agriculture Organization) aprovam ou não os aditivos alimentares, inclusive os adoçantes. No Brasil, a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) é responsável pela aprovação e segurança de todos os aditivos alimentares. Ela também monitora o quanto as pessoas estão consumindo de cada aditivo, por meio de pesquisas realizadas de tempos em tempos. Pesquisas globais mostram que o consumo de adoçantes está bem abaixo da IDA e no Brasil não é diferente.
É importante destacar que o valor de segurança (IDA) não se aplica a crianças com menos de 12 meses de idade. Os bebês estão numa fase de desenvolvimento com características metabólicas e fisiológicas particulares. Também é bom deixar claro que não há orientação de consumo de adoçantes para crianças menores de 2 anos ou abaixo de 15 kg, devido às necessidades nutricionais específicas e vulnerabilidades.
Se você ou seu filho precisam controlar a ingestão de calorias ou açúcar, os adoçantes podem ser uma alternativa segura para manter alimentos e bebidas com gosto doce em sua dieta.
Os adoçantes não são medicamentos, são alimentos. Eles vão ajudar as pessoas a reduzirem o consumo excessivo de açúcar, que é uma das recomendações globais de saúde pública. Converse com seu médico ou nutricionista, para uma orientação que se adeque às suas necessidades.
*A palavra adoçante é usada no texto, referindo também a edulcorante.
Márcia Terra
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