1. Qual é o papel da alimentação e dos nutrientes para a saúde da mulher?
A alimentação, na vida de seres humanos em geral, tem por objetivo fornecer energia e nutrientes ao organismo. Por meio do alimento, são ofertados os elementos necessários para o gasto energético basal e a execução de demais atividades. Nesse caso, temos os nutrientes calóricos, que são carboidratos, proteínas e lipídios. E os isentos de calorias como as vitaminas, os minerais e os compostos. Todos eles são essenciais para garantir o bom funcionamento do corpo e a prevenção de doenças.
Pensando no contexto da mulher e do ponto de vista das recomendações nutricionais, é preciso considerar as fases da vida. Vamos direcionar as recomendações de acordo com a faixa etária que a mulher se encontra, pois cada fase apresenta necessidades nutricionais específicas. É importante compreender que as recomendações vão mudando devidos às alterações fisiológicas inerentes a idade e envolvem a fase crescimento e de desenvolvimento, a maturação sexual (desenvolvimento dos caracteres sexuais femininos), a gestação, a lactação e as questões específicas do envelhecimento.
2. Como o exercício físico pode ser um aliado da alimentação para atingir objetivos de saúde, bem-estar e qualidade de vida?
Primeiramente, é preciso diferenciar atividade física, exercício físico e esporte. A atividade física é caracterizada como qualquer movimento que seja resultado de contração muscular voluntária e que leve a um gasto energético acima do repouso. Envolve movimentos corporais que fazem parte do trabalho, meios de transporte, atividades domésticas e recreação. O exercício físico é um tipo de atividade física mais estruturada, que possui intensidade, frequência e duração determinados, como por exemplo uma caminhada de 5km, que acontece 3 vezes na semana com duração de 1 hora. Geralmente, o exercício físico tem por objetivo melhorar o condicionamento cardiorrespiratório, reduzir de gordura corporal, aumentar a massa muscular esquelética entre outros.
O esporte tem como objetivo o desempenho e envolve algum nível de competição. Exemplos: atletas de futebol, basquete, vôlei, skate e demais modalidades esportivas.
Levando essas diferenças em consideração, as recomendações nutricionais voltadas ao exercício físico e a à prática esportiva são distintas. Para atingir diferentes objetivos, a forma de construir a alimentação é individualizada. A depender da frequência, intensidade e duração do exercício físico, o organismo demandará uma maior quantidade de energia e nutrientes, bem como hidratação. O planejamento alimentar tem por objetivo assegurar a saúde e contribuir com o desempenho. Exercício físico e alimentação saudável são dois pilares importantes da qualidade de vida.
3. A rotina, combinada a fatores de estresse e conciliação de múltiplas atividades, influencia nos hábitos alimentares da mulher?
Trabalhar um hábito alimentar saudável como parte da rotina é um desafio que envolve gerenciamento, tanto na escolha de alimentos, quanto na compra e na preparação. Partindo do pressuposto que não há restrição relacionada à doença de base, e de que todos os alimentos poderão ser consumidos, ela deverá gerenciar a forma com que eles serão inseridos na alimentação diária, ou seja, qual a quantidade e frequência de consumo.
Gerenciamento, pressupõe a programação da alimentação. Planejar o que será consumido. Disponibilizar os alimentos necessários de forma a moldar a alimentação na rotina garantindo assim que possa ser executada ao longo da semana. Com exercício físico acontece a mesma coisa: é preciso compreender a importância dele e criar espaços na rotina para que ele possa ser praticado.
O ideal é pensar que esses hábitos são a base da qualidade de vida e como tal começam hoje e seguem com a mulher por toda a vida, e não somente por um período determinado. Outro pilar importante nessa conta é o sono, quantidade e qualidade do sono são essenciais para se obter qualidade de vida. Tudo isso deve ser embutido no cotidiano, como se entrasse em “piloto automático”, fluindo de forma natural, de modo que a mulher possa administrar isso como um comportamento corriqueiro, independentemente de estar em seu trabalho, em casa ou em uma viagem, por exemplo.
4. Nutricionistas e demais profissionais são capazes de ajudar as pacientes a superarem as dificuldades que envolvem gerenciamento?
O especialista evoca vários papéis. Na atualidade, o desmistificar conceitos sem fundamentação científica veiculados a respeito de alimentos, alimentação e nutrição é um dos maiores desafios do profissional. Construir uma base de informação de qualidade baseada em evidência científica é o ponto de partida para instrumentalizar a mulher para que possa realizar escolhas alimentares adequadas.
A ideia é combater os mitos, os tabus e as desinformações que prejudicam a percepção das mulheres sobre os alimentos. O objetivo é habilitar as pessoas para conhecerem os alimentos e entenderem o papel deles na alimentação e na manutenção da saúde. Os profissionais auxiliam na hora de identificar esses alimentos, sugerir trocas, e no gerenciamento, quebrando os inúmeros tabus que existem sobre o assunto.
Em segundo lugar, nutricionistas atuam de modo a deixar claro que a modificação de comportamento é um processo lento e que o profissional contribuirá com o processo em todas as fases. Para ajudar as pacientes a superarem esses desafios, seguimos oferecendo suporte, esclarecendo dúvidas e contribuindo com dados relevantes para que elas façam disso um hábito, parte de suas rotinas.
5. Quais são os riscos que o organismo de uma mulher sofre a longo prazo em caso de desatenção para as necessidades nutricionais?
Vou responder essa pergunta utilizando o exemplo do cálcio e saúde óssea. Há uma recomendação nutricional específica por faixa etária e fase da vida, para que a mulher consuma cálcio todos os dias. Quando ela não faz isso, está comprometendo a saúde óssea bem como todas as demais funções das quais o cálcio participa. Com o passar do tempo, essa mulher terá maior probabilidade de desenvolver osteopenia e osteoporose. Na menopausa, isso se torna ainda mais importante, porque é quando o organismo passa por alterações hormonais que favorecem esse tipo de ocorrência.
É por isso que precisamos ter um acompanhamento do consumo de nutrientes desde o momento em que nascemos, sempre pensando em construir as condições para um envelhecimento saudável. Para se atingir a longevidade com qualidade, a adequação da oferta de nutrientes deve ser praticada. Quando pensamos em longevidade com qualidade, temos de assegurar a mobilidade, a qual depende de ossos, músculos e articulações saudáveis. Se isso não é considerado ao longo da vida, quando a mulher chega aos 60 anos ou mais, ela tem maior probabilidade de apresentar uma saúde óssea comprometida, associada aos problemas articulares e redução da massa muscular esquelética, ou seja, mobilidade prejudicada e pior qualidade de vida.
De todo modo, é importante lembrar que o cálcio é apenas um dos exemplos. Podemos levar isso para demais nutrientes, como vitamina D, ferro, Vitamina B12 entre outros.
6. Reconhecendo a importância dessa conversa e pensando num fechamento, o que você diria como forma de estímulo para que mulheres se atentem para as questões aqui levantadas?
Eu gosto muita da frase “cuidando de quem cuida”, porque acredito que a mulher tem o papel de cuidadora. Atribuem essa característica a ela. E cuidar de quem cuida implica em olhar para si, fazer uma autoavaliação, pensar no quanto ela está cuidando ou negligenciando a saúde dela. E a partir desse diagnóstico pessoal, procurar ajuda de profissionais, fazer um check-up para ter a exata noção de qual é o momento atual da sua saúde e fase de vida. Cuidando de si, as mulheres dão exemplo para que outros também se cuidem. Acredito que isso resume bem o que penso: cuidar de si para poder cuidar do outro.
Lembro, por fim, que é fundamental buscar por profissionais habilitados para cuidar da saúde da mulher. Comece dizendo não aos modismos alimentares, às promessas de resultado rápido, aos milagres atribuídos a alimentos específicos, porque não é por esse caminho que se adquire saúde a curto, médio e longo prazo.