Panorama ABIAD conversou com o coordenador e a vice-coordenadora do GT de Edulcorantes, Eduardo Nascimento Silva e Renata Cassar, para entender um pouco melhor sobre as campanhas de comunicação criadas pelo grupo nos últimos anos e sua nova versão, voltada para os demais países da América Latina.
PANORAMA – De forma geral, como tem sido o trabalho do GT de Edulcorantes da ABIAD?
EDUARDO – O GT de edulcorantes é um dos mais antigos da ABIAD, fazendo parte do DNA da entidade, de forma que ela possui toda legitimidade para assumir o papel de referência sobre o tema para os mais variados stakeholders externos. Com isso em mente, quando assumi sua coordenação em 2019, tinha como objetivo trazer propostas diferenciadas e mais modernas para tratar dos diversos assuntos relacionados aos edulcorantes, dando mais tração ao GT e aumentando sua relevância dentro da entidade.
PANORAMA – E como surgiu a campanha de comunicação de edulcorantes?
EDUARDO – O objetivo era, e ainda é, trazer informações corretas sobre os edulcorantes aos diferentes stakeholders, como consumidores, profissionais da saúde e jornalistas. Vemos que diversas notícias sobre o assunto surgem a todos os momentos, sendo que, muitas delas, são colocadas de maneira equivocada ou fora de contexto, o que propaga fake news e potencialmente rejeição desse ingrediente. Entendo que essas notícias deveriam ser uma ferramenta útil para muitos consumidores que buscam reduzir a ingestão de açúcares e calorias.
Planejamos a primeira edição da campanha no final de 2019 / início de 2020. Foi uma campanha multi-stakeholders, contemplando ações específicas para o público leigo (consumidores) e influenciadores ou formadores de opinião (profissionais da saúde e jornalistas). Com isso, a campanha foi ao ar durante o ano de 2020.
PANORAMA – Como foi a repercussão da campanha de comunicação de edulcorantes nas primeiras edições?
RENATA – A campanha foi um sucesso, com enorme retorno. Durante o primeiro ano de campanha tivemos muitos aprendizados que, juntamente com as mudanças de hábitos ocasionadas pelo momento de pandemia de Covid-19, nos levaram a ajustar a estratégia para a segunda edição, em 2021. Visando otimizar os recursos, focamos nos profissionais de saúde, porque entendemos que se esse profissional está bem-informado, compartilhará informação correta e, com isso, ajudará na educação do consumidor.
Esse propósito nos estimulou a seguir adiante e, então, buscar a ampliação da campanha para outros países, e é nesse estágio que estamos no momento.
PANORAMA – Contem melhor o que motivou a ABIAD, que tem sua atuação focada no Brasil, decidir expandir o impacto dessa campanha para outros países da América Latina.
RENATA – Hoje, o que acontece em outros países da América Latina impacta o Brasil e vice-versa. Não existem mais barreiras ou países trabalhando isoladamente.
A iniciativa do Chile ao fazer uma legislação sobre rotulagem frontal de alimentos, por exemplo, gerou uma grande influência em outros países de nossa região e do mundo. Vimos a necessidade de expandir a campanha para educar com uma só voz toda a América Latina.
PANORAMA – Como é a aceitação dos edulcorantes, comparando o Brasil com outros países da América Latina?
EDUARDO – No Brasil, atualmente, não temos uma regulamentação excessivamente restritiva para o uso de edulcorantes, contudo esses ingredientes estão no foco das autoridades e sociedade em geral. Além disso, se observa uma percepção bastante negativa pela maior parte da população. Quando olhamos para os países vizinhos, verificamos uma forte onda de restrições regulatórias aos edulcorantes, de forma desproporcional e, por vezes, sem o devido suporte científico. Essas regulamentações acabam influenciando outros países, gerando normas similares que trazem impactos diretos ao setor produtivo e reforçam uma percepção equivocadamente negativa por parte dos consumidores e dos profissionais da saúde.
PANORAMA – Vocês acreditam que a desinformação é comum em todos os países da região?
RENATA – Sim. Vemos muitas publicações negativas a respeito de edulcorantes em toda a América Latina. Fazer pesquisa com edulcorantes é complexo, por vários motivos, e é comum encontrar estudos com sérios erros metodológicos. Em modelos animais, por exemplo, frequentemente se encontram problemas em relação às doses oferecidas da substância, quantidades essas que seriam impossíveis de se replicar em consumo humano. Há também questões de interpretação dos resultados, com extrapolações impróprias feitas de estudos animais para seres humanos. Ainda, conclusões tendenciosas, ou formas sensacionalistas de se traduzir os resultados de um estudo científico para uma publicação destinada ao público leigo.
PANORAMA – Qual é a mensagem-chave sobre a segurança dos edulcorantes nas campanhas?
EDUARDO – Acreditamos que a informação imprescindível é que essas substâncias são avaliadas extensivamente e quando o comitê de especialistas da OMS (JECFA) aprova um edulcorante, eles avaliam o corpo de evidências como um todo, não apenas um estudo, isoladamente. Da mesma forma, autoridades locais, como a Anvisa, antes de aprovar qualquer ingrediente ou substância para consumo, faz uma séria avaliação de segurança. São extremamente criteriosos e todas as suas decisões são tomadas com base em dados científicos de qualidade.
PANORAMA – Como funcionará a dinâmica dessa campanha para a América Latina?
EDUARDO – O conteúdo da comunicação, realizada a princípio somente no Brasil, pela ABIAD, será agora amplificado para a América Latina, facilitando a disseminação pelas demais associações que farão parte do esforço de divulgação. Com a campanha, elas poderão se posicionar localmente sobre o tema, levando mensagens corretas sob o ponto de vista científico.
PANORAMA – Como ela se compara à campanha realizada apenas no Brasil em 2020?
RENATA – Basicamente, foram desenvolvidas versões em espanhol dos vídeos da campanha de 2020, relançando-os agora em nível regional (LatAm). A veiculação se dará pelos canais de comunicação das associações de indústria na América Latina que estão se unindo à ABIAD nesse projeto, incluindo websites, newsletters e mídias sociais, entre outros.
PANORAMA – E como a ABIAD está levando a campanha a esses países?
RENATA – Contatamos associações em vários países da região, como Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala e México, bem como associações que trabalham para a América Latina como um todo.
Fizemos reuniões de apresentação do projeto, incluindo o case de sucesso que tivemos no Brasil, e reiterando o objetivo de educar diferentes públicos, como profissionais da saúde, imprensa e consumidores, com voz única em toda a região.
PANORAMA – E como foi a adesão?
RENATA – Tivemos uma grande adesão e seremos 10 parceiros no que se espera ser uma grande difusão da campanha, pois se juntaram à ABIAD associações como: ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), CAFADYA (Cámara Fabricantes de Alimentos Dietéticos y Afines, Argentina), CHILEALIMENTOS (Asociación de Empresas de Alimentos de Chile), ANDI (Asociación Nacional de Empresarios de Colombia), CACIA (Cámara Costarissence de la Industria Alimentaria), CANACINTRA (Cámara Nacional de la Industria de Transformación, México), SABYT (Sector Alimentos y Bebidas, CANACINTRA), ALAIAB (Alizanza Latinoamericana de Asociaciones de la Industria de Alimentos y Bebidas) e ICBA (International Council of Beverages Associations).
PANORAMA – Esse GT parece bastante ousado e focado. Quais são os próximos passos, além de levar a campanha para fora das fronteiras nacionais?
EDUARDO – Queremos inovar e estamos continuamente aprendendo e aperfeiçoando as ações para que o plano seja efetivo. Com a evolução da tecnologia, surgimento e ganho de força das redes sociais, a forma como as pessoas se informam e se posicionam vem mudando rapidamente, e nós também devemos acompanhar essas mudanças e nos atualizar para atingir nossos objetivos de educação e comunicação. Recentemente, iniciamos o planejamento estratégico para a terceira campanha de comunicação. Entendemos que, provavelmente, manteremos o foco nos profissionais de saúde, chegando mais perto do consumidor final.
A participação das empresas é fundamental, porque surgem mais ideias e aumentam os recursos do GT. Estamos de portas abertas para novas empresas que queiram participar!