Entrevista com Henrique Moreira, Regulatory Affairs Manager na Danone  - Abiad

Entrevista com Henrique Moreira, Regulatory Affairs Manager na Danone 

29 de julho de 2025

1. Quais são os maiores desafios regulatórios hoje, no Brasil, para as empresas de alimentos para fins especiais?

    O Brasil é um país bem consolidado e reconhecido no aspecto regulatório, com boas práticas implementadas, transparência e reconhecimento internacional.

    No entanto, há uma alta frequência de mudanças de legislações que possuem impactos nos produtos, rótulos, embalagens, formulações, entre outros aspectos. Para o setor de alimentos para fins especiais, este impacto passa a ser ainda mais relevante, uma vez que boa parte dos alimentos passam por um nível de regularização ainda mais específico, com exigência de registro obrigatório, documentos e comprovações prévias à comercialização, já que podem ser destinados a público-alvo especial (pacientes, crianças, idosos, entre outros).

    Portanto, em um cenário em que há muitas alterações regulatórias em curto período, esta categoria de alimentos é afetada de modo mais profundo para cumprimento das adequações, além dos custos envolvidos.

    Além disto, vejo que há desafios para o registro nacional de alguns alimentos que já são comercializados em mercados internacionais: a categoria de enquadramento em nossa legislação, a composição específica presente nas normativas nacionais e a falta de alinhamento com legislações de mercados externos geram, algumas vezes, barreiras não-comerciais e menos acesso da população brasileira a produtos.

    A comunicação para pacientes sobre o propósito e impacto destes alimentos na saúde das pessoas, a função específica dos nutrientes presentes na composição e sua importância em condições de saúde específicas também são fatores desafiadores para o setor.

    Portanto, temos bastante oportunidade de desenvolvimento do cenário regulatório para promover a inovação e o acesso a produtos que trarão benefícios à saúde da população brasileira, e creio que a regulamentação futura sobre alimentos para fins médicos será um passo importante nessa direção.

    2. Como manejar o cenário regulatório nacional frente ao internacional?

     Quanto mais sinergia o cenário regulatório nacional tiver frente ao internacional, menos barreiras regulatórias serão impostas, facilitando a entrada no país de alimentos importantes, como aqueles para fins médicos destinados a terapias nutricionais especializadas, que já são consolidados em mercados internacionais, por exemplo.

    Mas, para chegar nesta etapa, manter um diálogo aberto e transparente com órgãos como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pode auxiliar as empresas a entenderem as diretrizes atuais e criar espaço para uma conversa produtiva e que favoreça o acesso de nutrição especializada à população brasileira.

    A ABIAD já se posiciona na vanguarda deste movimento junto à ANVISA, promovendo conversas com o órgão sobre as demandas do setor e contribuindo ativamente para chegar nos melhores resultados e alinhados ao que já se aplica no cenário regulatório internacional, sempre que possível.

    Há de se destacar que recentemente a ANVISA tem sinalizado intenção de convergência regulatória com legislações e referências internacionais, como visto no reconhecimento de Autoridades Reguladoras Estrangeiras Equivalentes (AREE) dada pela Instrução Normativa nº 344/25. Ainda existem oportunidades para ampliação do escopo da norma e das categorias nela abrangidas, mas iniciativas como esta geram otimização de processo, celeridade, maior confiança sobre o cenário regulatório brasileiro e, em última instância, maior probabilidade de investimentos no país.

    3. Quais as alternativas que as empresas trabalham em relação às barreiras regulatórias?

    É importante atuar como setor, por meio de associações com voz ativa para conversas abertas com órgãos reguladores, de modo a deixar claros os desafios enfrentados e propor sugestões de melhoria ao arcabouço regulatório atual. Mas este é um processo que demanda tempo, priorização e abertura e análise de impacto regulatório bem executado para que o resultado seja positivo.

    Enquanto isto, do ponto de vista prático, o que se pode fazer é tentar enquadrar produtos naquilo que há de existente na legislação nacional e, se possível, adaptar formulações para o contexto regulatório brasileiro. Evidentemente, este impacto é alto quando se pensa em empresas multinacionais, com produtos consolidados globalmente, e nem sempre é possível realizar tais adaptações.

    Outro aspecto relevante no contexto brasileiro é que a apresentação de dados comprobatórios sobre o que se propõe, seja sobre formulação ou comunicação dos produtos, é cada vez mais exigida pelos órgãos reguladores. Então, neste aspecto, é de suma importância estar munido de informações e análises sobre a segurança e eficácia dos alimentos para que sua regularização seja factível em território nacional.

    4. Quais tendências regulatórias e desafios você vislumbra para a inovação desse mercado nos próximos anos?

    Posso elencar alguns temas que vislumbro como impactos no contexto regulatório, tais como: inovações em ingredientes e tecnologias, regulação de alimentos plant-based, sustentabilidade e embalagens, transformação digital e acesso à informação aos consumidores.

    Mas, pensando no contexto da ABIAD, gostaria de destacar o avanço do tema de alimentos para fins médicos na agenda regulatória da ANVISA, com apoio desta associação.

    Considerando a importância da terapia nutricional como parte importante do tratamento, recuperação e manutenção da saúde dos pacientes, criar mecanismos regulatórios que permitam ampliar a gama de produtos disponíveis no Brasil trará benefícios à população e ao sistema de saúde nacional como um todo.

    Entendo que o trabalho para atingir este objetivo é complexo, mas de extrema importância e com propósito especial.

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