Entrevista com Renata Cassar, Head de Comunicação de Nutrição para a América Latina da BENEO. - Abiad

Entrevista com Renata Cassar, Head de Comunicação de Nutrição para a América Latina da BENEO.

29 de setembro de 2025

1. Como sua empresa visualiza o impacto de produtos à base de GLP-1 no mercado nacional de alimentos para fins especiais?

Enxergamos as terapias com GLP-1 — e a onda de medicamentos análogos a esse hormônio — como aceleradoras de uma mudança mais ampla: os consumidores estão buscando peso e glicemia saudáveis. No caso dos alimentos para fins especiais, isso significa um aumento na demanda por saciedade, glicemia estável e controle metabólico.

A isomaltulose (Palatinose™), um carboidrato de liberação lenta, é muito utilizada em alimentos destinados a necessidades nutricionais específicas (controle da glicemia, dietas de controle de peso ou substitutos parciais de refeições). Seu potencial de promover uma resposta glicêmica mais baixa e gradual está bem documentado através de mais de 30 estudos clínicos. Recentemente, 8 estudos publicados com 14 testes clínicos demonstraram sua eficácia em aumentar hormônios intestinais da regulação do apetite, como GLP-1 (Glucagon-Like Peptide-1) e PYY (Peptide YY).

2. Quais outros ingredientes têm comprovação para a jornada de quem usa GLP-1?

Algumas fibras como a inulina e a oligofrutose de chicória também promovem a regulação hormonal do apetite, estando entre os prebióticos mais extensivamente estudados, desde os anos 1980. Dispõem de ampla comprovação, incluindo recentes revisões sistemáticas com metanálises, com mais de 50 estudos clínicos sobre efeito prebiótico e mais de 30 sobre controle de peso.  Nesta área, conta com dados de 7 estudos sobre a regulação hormonal relacionada à saciedade/fome (GLP-1, PYY, grelina).

Juntas, essas soluções permitem que as marcas formulem, com respaldo científico, alimentos, bebidas e suplementos alinhados às necessidades dos usuários de GLP-1.

3. Quais categorias de produtos tendem a ganhar espaço com esse novo comportamento de consumo?

Três grupos principais devem crescer:

  • Mini refeições e snacks sacietógenos: barras ricas em fibras, snacks assados e iogurtes ou alternativas vegetais aos produtos lácteos enriquecidos com fibras prebióticas como inulina, com foco na promoção da saciedade e nos benefícios para a microbiota, incluindo a regulação hormonal que auxilia no controle de peso.
  • Bebidas e shakes de baixo índice glicêmico (IG): substitutos de refeição prontos para beber (RTD), smoothies e bebidas funcionais – como as de hidratação com isomaltulose, oferecendo energia sustentada a partir de carboidratos, porém com picos atenuados de glicose/insulina, ou seja, um perfil que apoia a liberação do GLP-1.
  •  Alimentos básicos e opções indulgentes com melhor perfil de carboidratos ou com “carboidratos melhores”: itens de café da manhã, de panificação e sobremesas congeladas reformulados para reduzir açúcar e aumentar fibras, melhorando o perfil glicêmico e a saciedade sem comprometer sabor e textura — tudo isso apoiando a jornada do consumidor em uso de GLP-1.

4. Como as marcas podem se posicionar diante de consumidores que comem menos, mas buscam mais qualidade nutricional no que consomem?  

As marcas que desejam se posicionar para consumidores que estão comendo menos, mas exigem maior qualidade nutricional, precisam apostar em alimentos que ofereçam benefícios concretos em porções menores – entregando maior valor percebido. A combinação de isomaltulose com fibras prebióticas da raiz de chicória garante energia estável, menor pico glicêmico pós-refeição e maior estímulo a hormônios da saciedade, como o GLP-1, permitindo que porções menores continuem sendo satisfatórias.

Também merece destaque o chamado “efeito na refeição seguinte”: incluir isomaltulose em snacks intermediários ou no café da manhã ajuda a prolongar os benefícios metabólicos para refeições subsequentes, algo útil para quem precisa controlar o apetite.

Além disso, a inulina de chicória possibilita uma redução significativa de açúcar e calorias (~1,5 kcal/g) e oferece benefícios prebióticos — alinhada ao “menos, porém melhor”.

  5.  Que oportunidades e tendências vocês vislumbram para o desenvolvimento de novos produtos adaptados ao público em uso de GLP-1 a curto e a longo prazos?

Curto prazo (6 – 18 meses)

  • Extensões de linha focadas em saciedade e porções menores, adicionadas de prebióticos comprovados, como a inulina, e com substituição da sacarose por isomaltulose — exemplos incluem shakes, bebidas e lácteos altos em proteína, barras e biscoitos matinais agora enriquecidos com fibras prebióticas e /ou isomaltulose — que reduzem a resposta glicêmica e estimulam GLP-1/PYY.
  • Snacks funcionais para “entre refeições”, desenvolvidos para maximizar o efeito da sensação de plenitude gástrica e saciedade (como um lanche com fibras ou isomaltulose no meio da manhã para otimizar o almoço).
  • Combinações de bem-estar digestivo + controle de peso, destacando o efeito prebiótico das fibras da raiz de chicória em sinergia com a regulação do apetite.

Longo prazo (18 – 36+ meses):

  • Plataformas completas de produtos alimentícios formulados para apoiar a jornada do usuário de análogos de GLP-1 – durante e após o tratamento.
  • Formulações desenhadas com base em evidências clínicas para modular respostas hormonais de saciedade, combinando ingredientes que favorecem o gerenciamento da resposta glicêmica e do apetite, com benefícios para o metabolismo e o peso.
  • Exploração de alegações de saúde e de comunicações baseadas em evidência relacionados à gestão da resposta glicêmica e metabólica.

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