Conversamos com Marco Cruz, membro do Comitê de Ética da ABIAD, para entendermos melhor o funcionamento, objetivos e benefícios dessa estrutura para a Associação, associadas e o mercado. Nas palavras do próprio Marco, “um comitê de defesa de interesses e não de punição”.
PANORAMA – O Comitê de Ética é uma estrutura razoavelmente recente na ABIAD. O que motivou seu surgimento?
MARCO – O Comitê de Ética foi eleito na AGE de 24 de novembro de 2021, mesmo momento em que o Código de Ética e Conduta foi aprovado.
Foi criado para dar mais legitimidade à ABIAD para orientar e requerer que as empresas associadas sigam padrões éticos consideráveis de forma a mostrar que a Associação trabalha com e exige ética no dia a dia.
PANORAMA – O que diferencia o Comitê de Ética da ABIAD do de outras associações?
MARCO – A maioria das associações têm comitê de ética, mas cada uma com suas caraterísticas. Como o escopo da ABIAD é muito grande e importante, pois reunimos empresas de alimentos para o dia a dia, dietas para pacientes em situações específicas, suplementos alimentares, ingredientes, entre outros produtos, temos um desafio extra.
Ou, posso dizer que esse é o grande desafio vencido: ter conseguido montar um Código de Ética que atenda empresas com clientes diferentes, posturas diferentes, realidades diferentes. E todos navegando em alimentos, um setor bastante sensível.
PANORAMA – Quais os principais objetivos ou desafios atuais?
MARCO – Como o Comitê é muito recente, neste momento estamos montando os processos internos: como vamos funcionar na prática, como será o fluxo de informações, como vamos receber uma denúncia, quem do comitê vai conduzir, como será a legitimação de uma eventual condenação, se haverá participação do board da ABIAD na decisão, e por aí vai.
As discussões que temos agora são muito técnicas. De definir processos. Tenho ótima expectativa em relação ao Comitê e o que podemos fazer, pois vamos contribuir bastante para o dia a dia da ABAD e das associadas.
É um comitê de defesa de interesses e não de punição. Não devemos funcionar como um tribunal, mas com função educativa para que nosso mercado melhore cada vez mais.
A ideia é que o cliente das associadas tenha acesso ao melhor produto com a melhor informação. Esse é o maior bem a ser protegido por nós. E, também, proteger a própria indústria para que ela não seja penalizada ou perseguida de forma aleatória.
PANORAMA – O que já foi entregue e o que vocês pretendem entregar nos próximos meses?
MARCO – Existe o canal de denúncias previsto no Código de Ética, que são o e-mail e o telefone da ABIAD, e vamos criar um formulário na área restrita do site da ABIAD. Mas já é possível fazer denúncias.
O grande objetivo desse mandato é criar o processo e deixá-lo o mais liso possível para que possa fluir. Vejo meus colegas de Comitê bastante motivados e empolgados, e acho que vamos conseguir fazer um trabalho bem interessante.
PANORAMA – Esse modelo de ir a passos não rápidos, mas seguros, foi o adotado até então na construção dos processos de compliance na ABIAD, não?
MARCO – Exatamente. Não dá para sair correndo e implementar um processo de afogadilho, mas que não funciona. A ABIAD foi bastante estratégica na condução do assunto; foi bastante desafiador conseguir implementar um Código de Ética e Conduta com a gama de diferentes associados; talvez nenhuma outra associação de indústria tenha membros tão diferentes entre si. Estamos fazendo de forma bastante estruturada e pensada.
PANORAMA – Os membros do Comitê foram eleitos, mas é possível as demais empresas associadas participarem de alguma maneira?
MARCO – Sem dúvida. As associadas podem dar ideias, sugestões e críticas. Temos um comitê montado com pessoas com experiência no assunto, com passagens ou atuando em compliance em suas empresas, mas sugestões são sempre bem-vindas.
PANORAMA – Grosso modo, já é possível entender como serão os processos de investigação de denúncias?
MARCO – A ABIAD não vai investigar denúncias internas das empresas. Vai investigar a prática da empresa. Pode colaborar com as associadas, se necessário, mas sem interferência da Associação sobre elas.
Até porque, às vezes temos situações em que os códigos de conduta das empesas são mais restritivos que o da própria Associação.