Último dia do Summit Future of Nutrition debate a importância dos alimentos funcionais e nutracêuticos como promotores da saúde.
Como melhorar a saúde das pessoas – e também do planeta – por meio da produção e do consumo consciente de novos ingredientes
FiSA | 10 Ago, 2023
O Summit Future of Nutrition chegou ao seu terceiro e último dia debatendo o tema Health Ingredients: Funcionais e Nutracêuticos.
Com foco na sustentabilidade aliada à nutrição, Patrícia Levy, diretora de P&D da Danone Brasil, comentou sobre as estratégias da empresa que, há 50 anos, decidiu unir performance econômica aos cuidados com o meio ambiente e com a sociedade. A empresa possui o Certificado B-Corp, emitido pela B Lab, que atesta que as empresas que o possuem respeitam os mais altos padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade legal.
Patrícia trouxe, em sua apresentação, alguns exemplos que refletem um dos pilares da empresa, o de sustentabilidade by design, focado em saúde e nutrição. “Noventa e oito por cento dos nossos produtos não necessitam da rotulagem nutricional frontal (que passará a ser exigida a partir de outubro deste ano) porque eles não possuem alto teor de açúcar adicionado, sódio ou gordura saturada. Além disso, temos como compromisso reduzir o teor de açúcar nos produtos infantis, que hoje se encontra em cerca de 11%, para 10% até 2025. Isso, para nós, é um desafio, porque é preciso garantir a continuidade do sabor.”
Patrícia falou também sobre o projeto de descarbonização da empresa, que faz parte do pilar sustentabilidade, e da meta de neutralizar ou zerar a emissão de gás carbônico até 2050, citando como exemplos ações de redução de espessura das embalagens, redução de material de origem fóssil e adoção dos conceitos de economia circular.
Seguindo na linha da importância da sustentabilidade aliada ao desenvolvimento das comunidades da Amazônia – o que tem sido bastante discutido no Congresso – o segundo painel do dia reuniu especialistas para contar suas experiências com o uso consciente dos ativos oferecidos pela biodiversidade brasileira sem impactar a vegetação nativa.
Pricila de Almeida, CEO da Amazônia Smart Food, empresa que desenvolve proteína vegana funcional, comentou que a rastreabilidade dos produtos garante a criação de cadeias produtivas inovadoras e sustentáveis, levando desenvolvimento às comunidades locais e mantendo a floresta em pé.
Para Paulo Simonetti, líder de Captação e Relacionamento com o Investidor do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), do Idesam, o segredo para inovar em alimentos funcionais está em entender todos os elos da cadeia produtiva, que, como foi dito nos dias anteriores, é bastante complexa.
“Trabalhar com as comunidades amazônicas é uma tarefa difícil, pois é preciso ganhar confiança das comunidades. É importante contar com pessoas que conheçam essa cadeia para que possamos entregar um produto, seja in natura ou com alto valor agregado, na qualidade e na quantidade necessárias para a indústria.”
Mas se o desafio é conectar o mercado com a conservação da floresta, ele pode ser vencido quando se trabalha em rede. “A conservação da floresta depende da interligação dos diversos ecossistemas e de atrairmos para a Amazônia empresas que verdadeiramente querem preservá-la”, comentou Marcelo Salazar, CEO da Mazô Maná Forest Food.
Hoje, o sistema de saúde brasileiro, seja ele público ou privado, não investe na promoção da saúde e na prevenção de doenças, estando muito mais focado nos tratamentos, o que, segundo especialistas, o tornará insustentável no futuro.
Mas existem empresas que estão unindo soluções de big data, inteligência artificial e outras ferramentas para cuidar melhor da saúde das pessoas para que elas tenham menos doenças e mais qualidade de vida.
Uma delas é a Prontmed, que esteve presente no último dia do Summit. Nathália Nunes, head de Expansão da empresa, uma healthtech que atua com foco na inteligência e organização de dados clínicos, apresentou aos participantes como os dados em saúde podem ajudar no desenvolvimento de um produto novo na indústria alimentícia.
“Com uma ferramenta que mapeia os riscos de saúde do paciente, posso saber qual tratamento, medicamentoso ou não, seria interessante que ele utilizasse, ou qual alimento pode contribuir para os cuidados com a saúde.” Tudo isso ainda é muito novo, mas, segundo ela, pode contribuir com a inovação no setor de alimentos.
Quem acompanhou os dois dias do congresso observou que muito se discutiu sobre o tema regulatório, e no último dia não foi diferente. Eugenia Muinelo, gerente de Assuntos Regulatórios da EAS Strategies Latin America, falou sobre o processo de avaliação de novos ingredientes botânicos e do canabidiol (CBD) nos países da América Latina.
Segundo Eugênia, a maioria dos países latino-americanos avalia e autoriza o uso de novos ingredientes para alimentos e suplementos de maneira individual. “Existem peculiaridades, como no México, por exemplo, onde não existe regulamentação, porque os produtos alimentícios não têm registro. Novamente aqui, cada caso é avaliado individualmente.”
Ela também abordou o processo de avaliação para uso do canabidiol (CDB), um derivado do cânhamo, que tem sido utilizado como óleo, principalmente. Eugênia apontou que países como Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai já aprovaram o uso do CBD como semente, óleo e farinha.
Outro ponto abordado no terceiro dia do Summit foram as mudanças na legislação de suplementos e como isso impacta as empresas. Gislene Cardozo, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), comentou que, a partir deste mês de agosto, todas as indústrias de alimentos devem estar adequadas à nova legislação.
A especialista explicou que o novo marco regulatório reúne em um único conjunto de normas todas as regras para fabricação e comercialização de suplementos, o que simplifica os processos para os fabricantes. Outras mudanças incluem ainda a definição de suplementos como alimentos, e não como medicamentos, e a criação de limites mínimos e máximos de nutrientes, como vitaminas e minerais, que devem compor as fórmulas, o que promove uma convergência regulatória com outros países.
Gisele Anne Camargo, vice-diretora geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), esteve presente ao Summit contando a experiência da criação do Tropical Food Innovation Lab, um consórcio criado pelas empresas Givaudan, Bühler e Cargill em colaboração com o Food Tech Hub LATAM e o Ital.
O Tropical Food Innovation Lab está sendo construído em Campinas (SP), com previsão de inauguração em outubro/novembro de 2023, e pretende ser um centro de inovação onde serão utilizadas tecnologias de ponta para prototipagem rápida e conexão ao ecossistema global de tecnologia de alimentos e bebidas. O objetivo é acelerar a inovação no setor de alimentos usando, para isso, um modelo de inovação aberta, criando um ambiente de compartilhamento de recursos e de conhecimentos.
“Queremos criar soluções sustentáveis a partir da biodiversidade brasileira para favorecer a cadeia de alimentos no país”, finalizou Gisele.
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