A fome representa um desafio na América Latina e no Brasil em relação à alarmante taxa de desnutrição, principalmente entre crianças. Esse cenário é apontado pelo “Observa Infância”, instituto de pesquisadores da Fiocruz dedicado à análise de dados de saúde sobre crianças de até 5 anos de idade.
Em 2021, de acordo com os pesquisadores, o número de hospitalizações de bebês devido à desnutrição atingiu o seu pior índice em 14 anos, com aproximadamente 113 internações a cada 100 mil nascimentos, o que representa um aumento de 10,9% em comparação a 2008. Estes números evidenciam a gravidade do problema e a necessidade de medidas para enfrentá-lo.
Nesse contexto, a alimentação enteral surge como uma intervenção nutricional crucial para pacientes hospitalizados que sofrem de desnutrição, pois além de fornecer nutrientes essenciais diretamente por meio de sondas ou tubos, as fórmulas enterais também trazem benefícios relacionados ao tempo de internação e aos custos.
Um estudo realizado em 2018, intitulado “Avaliação dos custos diretos com terapia nutricional enteral em um hospital público”, revela que pacientes desnutridos representam, em média, um custo três vezes maior para os hospitais em comparação com aqueles sem desnutrição. Isso resulta em um aumento médio diário de 61% nas despesas de atendimento, devido ao tempo prolongado de internação, realização de procedimentos, administração de medicamentos, consultas médicas e terapia nutricional. Por outro lado, esse mesmo estudo demonstrou que investir na terapia oral pode reduzir os gastos do SUS com ocupação de leitos, equipamentos e medicamentos, resultando em redução de até 45,2% nos custos excedentes.
Em paralelo, a pesquisa intitulada “Ampliação do reembolso da terapia nutricional com a adição da suplementação oral para tratar pacientes desnutridos em internação clínica” identificou que a ampliação do reembolso da terapia nutricional, incluindo a suplementação oral, teve impacto significativo. Em apenas um ano (2019), evitou-se a hospitalização por um total de 480.809 dias, o que permitiu o uso de leitos vagos para novas internações, evitou reinternações e preservou vidas. O custo aproximado desse reembolso para o governo foi de R$ 113,5 milhões no mesmo ano.
Diante desses resultados, a análise de custo-efetividade da suplementação oral demonstra uma economia diária relevante para o SUS, evidenciando o benefício econômico e a importância de salvar vidas por meio de um tratamento nutricional adequado.
É necessário, portanto, ampliar a conscientização sobre a importância da alimentação enteral na saúde pública brasileira. Afinal, o aumento do investimento e a adoção de políticas que facilitem o acesso e otimizem o uso dos recursos para intervenções nutricionais podem desempenhar um papel fundamental na redução dos impactos da desnutrição e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes hospitalizados pelo SUS, promovendo o bem-estar dessas pessoas.