<strong>Patrícia Marrone pondera sobre balanço de mercado em análise técnica e destaca os principais pontos do setor de alimentos para fins especiais</strong> - Abiad

Patrícia Marrone pondera sobre balanço de mercado em análise técnica e destaca os principais pontos do setor de alimentos para fins especiais

02 de março de 2023

Nesta entrevista exclusiva para Panorama ABIAD, a economista Patrícia Marrone, sócia-diretora da Websetorial, fala sobre o cenário dos próximos anos para a indústria de alimentos para fins especiais no Brasil.

ABIAD: Quais os maiores riscos e melhores oportunidades do ponto de vista econômico-político para a indústria de alimentos para fins especiais nos próximos anos sob o mandato do presidente Lula?

PATRÍCIA: Há mais riscos do que oportunidades. Existem oportunidades para alguns setores de empresas associadas à ABIAD, mas não posso ser muito otimista de uma maneira geral por uma série de fatores econômicos e políticos.

Além dos riscos da falta de previsibilidade sobre a evolução das despesas públicas e os seus impactos sobre a confiança do mercado, juros e inflação, citados na edição 25 do Boletim Econômico ABIAD, de fevereiro de 2023, acrescento  o fato de que, o público que mais consome alimentos para fins especiais é formado pelas famílias com renda mensal entre cinco e 15 salários mínimos, justamente o grupo que deve ser mais sacrificado pelo governo com a reforma tributária que está sendo delineada, baseada em tributação de dividendos. É essa faixa de renda composta por profissionais liberais e proprietários de empresas pequenas que terá que fazer um ajuste na cesta dos itens que consome para adequar o seu orçamento, se esse cenário se concretizar.

Há ainda o risco no lado do varejo, que já deve estar afetando as empresas que distribuem os produtos ABIAD ao consumidor. Essas empresas sofreram por cerca de dois anos seguidos com a pandemia, pois, mesmo com o aumento do e-commerce, muitas ressentiram da falta do movimento de clientes nas ruas e shoppings centers. Quando começam a se recuperar, acontece o evento com a Americanas num ambiente de juros elevados que, pelo menos por enquanto, tem dificultado o acesso ao crédito bancário.

Para as empresas associadas à ABIAD o maior risco é o da reversão de decisões judiciais referentes a tributos e da revogação parcial da reforma trabalhista, o que trará forte insegurança jurídica e aumento nos custos de contencioso trabalhista e tributário. Nesse cenário, o custo Brasil aumenta bastante.

ABIAD: Apesar desse cenário geral, você comentou de alguns setores com perspectivas melhores. Quais são eles?

PATRÍCIA: Acredito que o setor de bebidas com baixas calorias, os diets e light, deva continuar crescendo enquanto as taxas de desemprego se mantiverem nos níveis 8% a 9% herdados da gestão anterior. Até porque as classes mais baixas também consomem esses alimentos.

Há, ainda, os alimentos enterais, pois são financiados pelo SUS ou planos de saúde quando a pessoa está internada. Mas, aqui, acredito que seja bem importante a continuidade das ações de relações governamentais para se buscar inclui-los na lista de produtos reembolsados pelos sistemas público e privado de saúde mesmo em ambiente domiciliar, na continuidade do tratamento pós-alta médica.

Talvez os alimentos infantis aliados à praticidade, como os que são adicionados ao leite, possam sentir algum aumento de vendas caso ocorra a almejada transferência de renda para a classe baixa. Isso porque essas mães têm pouco tempo para cuidar dos filhos e precisam de opções práticas e nutritivas. Entretanto tal transferência depende da definição de regras claras sobre o controle das despesas (âncora fiscal) que garanta a sua execução e prevenção de gatilhos para conter o aumento da inflação. Isso porque, as famílias com renda até cinco salários são muito mais afetadas pelos níveis da inflação. Assim, se tiverem ganhos com algum tipo de benefício de um lado, mas perdas com a inflação, o resultado de transferência será nulo.

Nas exportações, o segmento representado pela ABIAD que deve aproveitar bons anos é o de produtos de colágeno, porque o Brasil tem uma vantagem comparativa nos produtos da cadeia da carne.

ABIAD: Dentro do cenário colocado, as ações de relações governamentais podem gerar oportunidades para outros produtos representados pela ABIAD?

PATRÍCIA: Sim, talvez suplementos alimentares e alimentos especiais para crianças, gestantes e idosos. Penso que, especialmente a questão do idoso, seja uma enorme oportunidade dada a mudança demográfica no Brasil. De qualquer forma, é preciso construir uma agenda técnica para defender esses pleitos.

Desenvolver modelos de proteção social além da aposentadoria como home care e residências para idosos, não nos moldes das atuais ILPI – Instituições de Longa Permanência para Idosos, mas algo direcionado exatamente para a faixa de renda de cinco a 15 salários-mínimos, pode criar uma série de oportunidades para empresas voltadas a esse público.

ABIAD: E em relação às exportações? Temos um cenário mais positivo?

PATRÍCIA: Os associados ABIAD exportam especialmente para os Estados Unidos e América Latina, além de exportações de alimentos para grupos específicos para alguns países da África, tendo Nigéria e Serra Leoa como os dois principais. Olhando para a América Latina, não vemos com otimismo o ambiente político e econômico que permitiria um bom volume de exportações.

De qualquer maneira, são oportunidades de nicho, bastante pontuais.

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