Adoçantes no cuidado das doenças crônicas: aliados ou vilões? - Abiad

Adoçantes no cuidado das doenças crônicas: aliados ou vilões?

30 de outubro de 2025

Por Lara Natacci, Nutricionista, Ph.D., pós-doutora em Nutrição, diretora da clínica Dietnet e colunista da Veja Saúde.

Quem já atendeu um paciente com diabetes, hipertensão ou obesidade sabe: uma das perguntas mais frequentes no consultório é sobre o uso de adoçantes ou edulcorantes, para utilizar o termo técnico. Eles podem mesmo substituir o açúcar? São seguros? Atrapalham o emagrecimento? E o intestino, sofre? As dúvidas são muitas — e os mitos, ainda mais.

Na minha última palestra em Natal (RN), durante um importante congresso de nutrição, que explorou os temas mais atuais e relevantes dentro da Nutrição Clínica e Esportiva, falei justamente sobre isso: o papel dos edulcorantes no tratamento de doenças crônicas. E o que a ciência diz é claro: desde que utilizados dentro dos limites seguros e como parte de um plano alimentar equilibrado, os adoçantes não calóricos podem ser, sim, aliados importantes para reduzir a ingestão de açúcar e calorias, especialmente em casos de diabetes, dislipidemia, hipertensão, obesidade e esteatose hepática.

Antes de qualquer julgamento, vale lembrar: edulcorantes são aditivos alimentares autorizados por órgãos reguladores e agências de saúde como a ANVISA no Brasil, a Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), na União Europeia, e OMS, com ingestão diária aceitável (IDA) bem definida, baseada em estudos rigorosos. E quando falamos dos mais estudados — como sucralose, estévia, acessulfame-K, e até o tão falado aspartame — não há evidência de que causem elevação de glicemia, ganho de peso ou efeitos tóxicos nas doses recomendadas.

Na prática clínica, os adoçantes podem trazer mais flexibilidade à alimentação, sem abrir mão do prazer. E isso importa! Manter o prazer de comer influencia diretamente na adesão ao tratamento. Quando orientamos a substituição consciente e individualizada do açúcar, respeitando o contexto e preferências do paciente, conseguimos promover mais qualidade de vida, sem extremismos.

É claro que eles não são uma solução mágica. Sozinhos, não revertem um quadro clínico nem emagrecem. Mas usados com critério, podem ser ferramentas úteis em estratégias nutricionais de longo prazo, inclusive com evidências de benefício no controle glicêmico, na redução de peso e na adesão à dieta.

O que precisamos, como nutricionistas, é sustentar nossas orientações nas evidências científicas, valorizando escolhas seguras e adequadas a cada perfil clínico. A escolha entre açúcar e adoçante não deve ser reduzida a uma questão de preferência pessoal, mas uma decisão técnica, individualizada e contextualizada. Porque, no fim das contas, o que realmente importa é o conjunto da obra: padrão alimentar, estilo de vida e vínculo com o paciente.

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