“As áreas de assuntos regulatórios e da nutrição possuem uma predominância do gênero feminino”, avalia Helena Tavares em conversa com a ABIAD - Abiad

“As áreas de assuntos regulatórios e da nutrição possuem uma predominância do gênero feminino”, avalia Helena Tavares em conversa com a ABIAD

22 de março de 2023

Eu atuo na área regulatória há bastante tempo, desde 2007. Apesar de toda dificuldade que nós, como mulheres, enfrentamos no mercado de trabalho, e de todas as discrepâncias da área científica nesse aspecto, eu sempre vi uma predominância de mulheres no setor, o que é positivo.

Acredito muito que é da natureza feminina ter mais sensibilidade. As áreas de assuntos regulatórios e da Nutricão percorrem o gênero feminino, o que eleva a qualidade dessa característica nesses espaços. Desde o começo, a mulher nasce e se cria por meio do cuidado e do zelo. Essas são apenas algumas das contribuições deixadas por nós, que ao atuarmos em maioria no setor, o fazemos refletir essa qualidade de forma muito forte e clara. Uma evidência disso está na própria quantia de mulheres atuando na Anvisa e no Ministério da Agricultura, por exemplo. Há nessas áreas uma tendência ou inclinação ao perfil de liderança nato do feminino. Quando levamos isso para parcerias profissionais entre homens e mulheres, percebemos que as visões enriquecem.

É por isso que, embora eu nunca tenha me colocado ou me sentido em posição de inferioridade em relação ao gênero, sem nem mesmo ter passado por uma situação evidente de falta de reconhecimento, entendo que as dificuldades podem ser diferentes para cada mulher, a depender da área em que se trabalha. No regulatório, existe uma predominância enorme da participação da mulher, e eu navego nessa oportunidade.

O que percebo, por outro lado, convivendo com minhas colegas, é que compartilhamos uma realidade muito similar àquela experienciada por mim no que diz respeito ao equilíbrio. Geralmente, precisamos entregar resultado para a companhia e, ao mesmo tempo, atender as demandas de nossas casas. Falando da minha perspectiva, como mulher casada, mãe de um filho, e que conta com o suporte de um marido presente, sei que é essencial ter uma rede de apoio. Me sinto privilegiada por ter ao meu lado alguém que compreende meu fluxo de transição. Todos os dias, eu acordo mãe, e já tomo meu café lendo e-mails. Saio para levar meu filho para a escola enquanto, ao mesmo tempo, atendo demandas.

Pensando por esse viés, posso dizer que hoje, o que sinto mais dificuldade é saber equilibrar todos esses interesses, mesmo quando eventualmente estou no meu limite. É sempre um exercício saber separar os problemas da casa, não os levar para dentro do trabalho e vice-versa. Esse é o maior desafio de ser mulher e mãe. O que faço para contornar isso é dosar as minhas expectativas. Por exemplo no caso da alimentação: por ser nutricionista, sempre idealizo me alimentar adequadamente e proporcionar isso para minha família, mas também preciso trabalhar com fatos reais. Eu consigo viabilizar algo saudável? Sim. Porém, não sempre e não todos os dias.

Viver em família requer planejamento e dedicação mínima de tempo para viabilizar coisas. Isso ninguém consegue todos os dias e a toda hora. Durante muito tempo, eu tentei buscar a perfeição. Hoje, percebo que não é possível. Precisamos também saber aceitar que as coisas, às vezes, serão contraditórias. Há dias em que posso ser uma mãe perfeita, mas há outros em que não dou conta disso, em virtude de limitações de tempo.

Nesse caso, o conselho que dou para as mulheres e mães que, assim como eu, estão equilibrando muitos interesses, é cultivar o amor-próprio. Se não nos respeitarmos e valorizarmos as nossas capacidades, não saberemos identificar onde estamos e onde queremos estar. A escolha de estar no trabalho ou na casa deve ser feita pela mulher, e não pela pressão daqueles que exigem dela. E para manter a saúde física e mental nesse cenário, minha recomendação é sempre buscar por uma rede de apoio, tanto profissional, quanto de amigos. Essas pessoas nos dão o suporte e a segurança que precisamos para que todas as dificuldades não voltem na forma de autocobranças. Trata-se de estabelecer lugares de confiança, assumindo as nossas potencialidades, sem precisar abrir mão de nossa saúde.

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