Lara Natacci – Nutricionista, Ph.D pela USP, Membro da Diretoria da SBAN – Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
Se você faz parte do grupo que adora um docinho, mas se preocupa com a saúde, a questão de substituir o açúcar por adoçantes pode ser um verdadeiro dilema. Afinal, a promessa de manter o sabor doce, sem os efeitos negativos do açúcar, parece quase perfeita. No entanto, muitas pessoas ainda se perguntam: até que ponto os adoçantes são seguros? Como usá-los de forma que realmente tragam benefícios? Se essa é sua dúvida, você não está sozinho.
Uma das formas mais confiáveis de usar esses produtos de maneira segura é compreender o conceito de Ingestão Diária Aceitável (IDA), uma importante medida estabelecida por órgãos de saúde como a ANVISA, a OMS, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, entre outros. A Ingestão Diária Aceitável (IDA) é o limite máximo de uma substância, expresso em miligramas por quilograma de peso corporal, que uma pessoa pode consumir diariamente ao longo da vida sem apresentar riscos apreciáveis à saúde. No caso dos adoçantes, a IDA é calculada com base em estudos toxicológicos rigorosos que medem a dose máxima de um adoçante que não causa efeitos adversos. Esse nível seguro é então reduzido em 100 vezes – uma margem de segurança que garante que a substância seja segura para o consumo humano mesmo em exposições prolongadas.
Para estabelecer a IDA de um adoçante, os estudos passam por várias etapas. Primeiro, são realizados testes em animais para identificar a dose máxima sem efeito adverso observável (NOAEL). Em seguida, aplica-se o fator de segurança de 100 – dividindo essa dose máxima observada por 100 – para levar em consideração as variações entre animais e humanos, além das diferenças individuais entre os próprios humanos. Essa metodologia, aplicada pela OMS, FDA e ANVISA, assegura que o consumo dos adoçantes aprovados, quando dentro dos limites da IDA, é seguro.
Trago um exemplo para ilustrar; se a IDA de um adoçante específico é de 1 mg por quilograma de peso corporal, uma pessoa com 70 kg pode consumir até 70 mg desse adoçante por dia de forma segura. Essa quantidade é mais do que suficiente para adoçar bebidas e receitas respeitando os limites regulamentados.
A ciência que apoia a segurança dos adoçantes é robusta. Diversos estudos realizados por comitês especializados, como o Comitê Conjunto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA, em inglês,Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives) e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), demonstram que os adoçantes são seguros para o consumo humano. Além disso, regulamentações da ANVISA reforçam o compromisso com a segurança dos aditivos, incluindo os edulcorantes, em consonância com a Política Nacional de Alimentação e Nutrição.
Concluindo, o uso de adoçantes pode ser uma opção segura e eficiente para aqueles que buscam reduzir o consumo de açúcar sem abrir mão do sabor doce. A Ingestão Diária Aceitável (IDA) proporciona uma orientação segura para o consumo, baseada em rigorosos estudos científicos que garantem a segurança desses compostos em exposições prolongadas. Ao respeitar os limites da IDA, é possível usufruir dos benefícios dos adoçantes, como o controle glicêmico e a redução calórica, sem riscos à saúde. Dessa forma, ao compreender e aplicar o conceito de IDA, consumidores podem fazer escolhas informadas e seguras, aproveitando o sabor doce com responsabilidade e segurança.
REFERÊNCIAS
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); Guia para Comprovação da Segurança de Alimentos e Ingredientes, Brasília, 2013. 32.
Nicoluci, Í. G., Takehara, C. T., & Bragotto, A. (2022). Edulcorantes de alta intensidade: tendências de uso em alimentos e avanços em técnicas analíticas. Química Nova, 45, 207-217.
Walbolt, J. and Koh, Y. (2020). Non-nutritive sweeteners and their associations with obesity and type 2 diabetes. Journal of Obesity & Metabolic Syndrome, 29(2), 114-123. https://doi.org/10.7570/jomes19079
World Health Organization (WHO); Evaluations of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA), Genebra, 2019.