Autor: Hellen Maluly
Qual seria a melhor opção entre adoçantes para quem não abre mão de uma sobremesa?
Já é consenso na ciência que o paladar pode nos ajudar a decidir se um alimento é realmente bom para o nosso corpo, afinal, ele é o sentido que reconhece os gostos básicos como o doce, o salgado, o amargo, o ácido e, o agora conhecido quinto gosto, o umami, entre outros que já estão sob investigação dos cientistas.
Uma observação importante é que enquanto os elementos doces são escolhidos pelo paladar para reconhecer os carboidratos, os que proporcionam o umami reconhecem as proteínas, por exemplo.
Para o antropólogo brasileiro Raul Lody, em seu livro “Caminhos do açúcar”, de 2011, o sentido do paladar não é somente importante para a nutrição, mas também para o prazer.
“Come-se com o corpo inteiro. Primeiro, come-se com os olhos, depois, come-se com o olfato; come-se com o tato; come-se finalmente com a boca, com o prazer, um sentido tão aguçado que já é um sentimento”.
Escolhemos, então, o gosto doce não somente para nos nutrir, mas também para nos proporcionar prazer. Desde a descoberta da cana de açúcar na Papua-Nova Guiné, na Oceania, observou-se o aumento da sua produção de em diversas partes do mundo, principalmente entre os séculos 17 e 19.
Coincidentemente, nessa mesma época, houve aumento do consumo de açúcares, o que acabou se tornando um problema de saúde pública, quando revelado que seu excesso poderia levar ao desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).
Na tentativa de controlar este problema, sintetizou-se, em 1879, a primeira substância que tem o poder de adoçar até 500 vezes mais que o açúcar: a sacarina. Após esta síntese, iniciou-se, no século 20, uma busca constante por outras moléculas que substituíssem o açúcar.
Foi assim que os cientistas encontraram outras moléculas com o poder de adoçar, sem contribuir com calorias, mais conhecidos como adoçantes como o acessulfame de potássio, o advantame, o aspartame, a estévia, a taumatina, o eritritol, xilitol, entre outros.
Verifica-se que as opções para quem não abre mão de um docinho são muitas e as agências regulatórias em todo o mundo, incluindo o Brasil, garantem a sua segurança e estabelecem limites para seu uso, assim como há limites para o consumo de açúcares. É importante ressaltar que os adoçantes são utilizados em quantidades muito baixas por conta de serem muito mais doces que o açúcar comum. Há também outras opções no mercado, mas com intensidades de dulçor semelhante ao açúcar comum, como sorbitol, xilitol, etc.
Algumas dessas opções são mais agradáveis ao paladar e outras podem gerar gostos residuais, como o amargor, para algumas pessoas.
Agora, qual seria a melhor opção para adoçar a nossa vida?
Quem dará a resposta é o seu paladar. Não existe melhor ou pior, porque é você quem escolhe o sentimento de dulçor que mais lhe aguça o prazer pelo encontro entre a harmonia, a delicadeza, a elegância, o fascínio e o equilíbrio.
Hellen Dea Barros Maluly é farmacêutica e doutora em Ciência de Alimentos.
Referências
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