Na busca por terapias sem efeitos colaterais, uma recente pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP obteve alguns resultados positivos em relação ao tratamento de dores faciais. Os benefícios de compostos do complexo B e da luz laser se refletem na proteção de um nervo presente no rosto (nervo trigêmeo), cuja lesão gera uma condição de dor crônica na face – a neuralgia trigeminal (NT).
A dor é causada por um dano no nervo, que pode se por meio de uma extração de um siso, por exemplo. Além disso, o que provoca o incômodo são situações cotidianas como fazer a barba, se maquiar, escovar os dentes.
O objetivo do laboratório, liderado pela professora Marucia Chacur, tem sido buscar tratamentos alternativos, que não possuam efeitos colaterais. Ainda assim, o grupo não visa cessar de imediato o uso dos medicamentos convencionais. “O que fazemos com esse tipo de tratamento é, junto com o medicamento que se está tomando, diminuir a dor no local. Com o tempo, o indivíduo pode diminuir e, quem sabe, até mesmo cessar as doses que deve tomar”, explica.
Como agem o laser e a vitamina
Basicamente, a ação da luz é resultado de uma interação dela com a mitocôndria. A partir de um comprimento de onda de 904nm, definido pelo laboratório por meio de diferentes testes experimentais, o laser atinge determinadas células e age sobre a mitocôndria, que reage aumentando o metabolismo celular e garantindo mais energia para a célula.
A vitamina B também tem um importante papel no tratamento do nervo, o que ainda está sendo estudado, mas já apresenta resultados positivos. Em uma linha mais analgésica, alguns trabalhos relacionam-na com o aumento dos níveis de serotonina na via inibitória de dor. Um paciente com dor crônica tem sua qualidade de vida afetada e isso influencia o aspecto afetivo-emocional, inclusive podendo levar a um quadro depressivo.
Marucia explica que o suplemento de serotonina é encontrado em muitos antidepressivos, já que pessoas nessa condição apresentam baixos níveis da substância – e é ela quem contribui para a retomada do ânimo.
Resultados da ação conjunta
Os testes foram feitos em ratos e contaram com experimentos capazes de mensurar a dor sentida pelo animal antes e depois do tratamento, sempre em comparação com o grupo-controle (aquele não afetado).
Após a indução da lesão, observou-se o comportamento dos camundongos dentro de um aparato capaz de avaliar a situação do aspecto térmico-mecânico. Atraído por um líquido, o animal foi direcionado até um sensor, que contém filamentos térmicos e táteis. “Se uma região está dolorida, é natural evitar apoiá-la, porque vai doer. Tentamos avaliar, então, por quanto tempo o animal aguentou ficar apoiado ou quantas tentativas ele fez para ir até lá; é uma forma de mensurar essa resposta dolorosa”, justifica a pesquisadora.
Os resultados mostraram que, com o laser especificamente, após duas ou três sessões o rato já manifestou uma melhora na dor. Isso é ainda mais intensificado em conjunto com a ação da vitamina B: “Como estamos buscando um tratamento sem efeito colateral, e às vezes até de menor custo que um tratamento convencional, a ideia é exatamente juntar a vitamina B com o laser e ver se há potencialização do tratamento”, esclarece Daniel. E, de fato, há. Quando o animal é submetido aos dois tratamentos de forma conjunta – o laser e a vitamina – há indícios de reversão do comportamento doloroso mais cedo. “Enquanto na aplicação do laser a melhora precisa de, no mínimo, duas sessões, a aplicação dos dois tem efeitos bons já em apenas uma sessão”.
*Com informações da Universitária de Notícias da USP.
Fonte: Viva Bem