Suplemento alimentar está em 55% dos lares na capital baiana
Item cada vez mais presente nas prateleiras e dietas dos brasileiras, os suplementos alimentares vem se popularizando e ganhando seu espaço. Estima-se que pelo menos uma pessoa em 59% das famílias faz uso dessas substâncias, segundo levantamento da ABIAD (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres) em sete capitais – Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Brasília (DF) e Belém (PA). Isso representa um crescimento de 10% nos últimos cinco anos.
Em Salvador, a representatividade nos lares é um pouco menor que a média nacional, 55%. No entanto, existe o crescimento no consumo desses produtos entre os soteropolitanos, com alta de 12% nos últimos cinco anos. O cenário é puxado por fatores como as ações feitas por influenciadores digitais e a vivência de realidades desafiadoras como a da pandemia da Covid-19, explica Haroldo Lordello Filho, nutricionista esportivo.
“A preocupação com a imunidade acabou fazendo com que as pessoas buscassem o artifício da suplementação para fortalecer realmente o sistema imunológico e se prevenir do acometimento da Covid. Mas, no âmbito esportivo, a gente tem também o crescimento por conta dos influenciadores digitais, que resultou no grande crescimento de consumo de suplementos ergogênicos, como a gente chama. São produtos que visam ajudar na melhora da performance ou na melhora da recuperação após a sessão de atividades físicas”, destaca.
Mas para que servem os suplementos alimentares? Como começar? Qualquer um pode utilizar? Seja para complementar sua dieta ou melhorar seu desempenho esportivo, bem-estar e saúde em geral, é preciso saber escolher bem qual suplemento utilizar. Isso para que você não jogue seu dinheiro fora ou prejudique sua saúde, , como explica o doutor em Endocrinologia pela FMUSP Título de Especialista pela SBEM, Cristiano Barcellos.
“O próprio nome suplemento já sugere que não é uma coisa para todo mundo. Independentemente do sexo, do gênero, da idade, da doença. Não é uma coisa para todo mundo. Quando você vai suplementar alguma coisa, você vai fazer algo além do que o standard care, que é o tratamento básico, a conduta básica”.
Para tirar essas e outras dúvidas e ajudar a você que quer manter aquele shape para o verão ou dar aquela ‘aditivada’ na dieta, o Portal A TARDE conversou com nutricionistas e médicos da áreas esportiva para entender a melhor forma de usar os suplementos alimentares como aliados e tomar todos os cuidados.
Como escolher o suplemento alimentar
Segundo os especialistas, o primeiro passo para escolher o suplemento alimentar é identificar a necessidade de cada um, ou seja, buscando um nutricionista ou médico especializado.
“O primeiro passo é você buscar um nutricionista para ele avaliar como é que está a sua alimentação, te ajudar a corrigir alguns hábitos alimentares que estão inadequados por seu perfil de saúde ou para a sua performance e conversar com ele a sua dificuldade de realizar alguma refeição através de alimentos ou chegar num volume adequado para suprir toda a sua necessidade nutricional e aí sim a gente começa a pensar em suplementos. Apesar deles não serem necessários a prescrição de uma receita para serem adquiridos, eles são basicamente a concentração de nutrientes, de aminoácidos, de vitaminas, mas só utilizados simplesmente não vai resolver o problema de ninguém”, explicou Haroldo.
As necessidades são as mais diversas, desde para potencializar o treino ou melhora na saúde. Em Salvador, entre os produtos mais consumidos, estão: Cálcio, Multivitamínicos, Ômega 3, Whey Protein, Óleo de Coco, Vitamina C e Colágeno. Porém, o queridinho ainda é a Creatina.
Tipos de suplementos
Creatina
A nutricionista esportiva Luane Fagundes salienta que, apesar de ser mais popular entre os mais novos, a creatina é indicada para todas a idades e tem diversas funcionalidades.
“A creatina, a gente pode estar usando não só com gente jovem, mas com idoso, com pessoas acamadas, que ela ajuda na resistência, ajuda na força, ela age na parte neural também. Então, não é um suplemento de só pra praticantes de atividade física”.
O endocrinologista Barcellos também tem a creatina como uma das mais indicadas para seus pacientes e considerado como nível A (suplementos mais bem estudados). “A creatina, na minha prática clínica, já dei o exemplo aí para que serve, etc., quando não pode, quando pode usar, ela tem um nível A de evidência e para os pacientes que fazem esses exercícios de curtíssima duração, de explosão muscular, como a gente fala, eu costumo prescrever bastante”.
Além da Creatina, Luane ainda explica para que servem outros suplementos.
Whey Protein
“Whey é a proteína do soro do leite. Ela é muito utilizada pro ganho de massa muscular, tem um acrescente muito grande, as pessoas buscam pra quem tá praticando atividade física, mas vale ressaltar que não é a única finalidade. O whey, ele não serve só pra quem é praticante de atividade física, ele pode ser um complemento proteico, tanto no lanche, quanto como um pós-treino”.
Ômega 3
“O ômega 3 ajuda muito na saúde cardiovascular, na parte neural, pra colesterol, glicemia, então ele ajuda muito na complementação de uma das gorduras boas”.
Colágeno
“A gente tem alguns tipos de colágeno no mercado, como colágeno hidrolisado, colágeno verisol, são peptídeos de colágeno para a pele, unha, cabelo, flacidez, como a gente tem um colágeno tipo 2 com colágeno não hidrolisado, que ele é bastante indicado para articulação”.
Cálcio e multivitamínicos
“O cálcio e os multivitamínicos são complementos, são polivitamínicos e minerais, que quando uma pessoa tem uma má alimentação, uma má ingestão, acaba fazendo uso e são suplementos que as pessoas usam de forma indiscriminada, vendo uma deficiência e acha que precisa de um polivitamínico, porque tá ficando muito resfriado, tá ficando muito doente, então acaba sendo aquele suplemento que ela compra como um tratamento ali de imediato, para uma melhora daquela finalidade”.
Hábitos x Suplementos
Um outro estudo recente realizado pela Famivita apontou que 69% dos participantes da Bahia preferem ingerir suplementos a modificar seus hábitos alimentares, para conquistar um objetivo de saúde. O que muitas vezes representa um risco a sua saúde.
“Nenhum suplemento vai conseguir substituir ou tapar o buraco de uma dieta mal executada, mal equilibrada”, salientou Haroldo. O nutricionista ainda ressalta que a busca pela ‘pílula mágica’ é algo transcendente, mas que tem seus riscos.
“Muitas pessoas ainda desconhecem o fato de que os suplementos são nutrientes concentrados. Com isso, seu papel não é o de suprir falhas na alimentação, mas sim complementar a alimentação daqueles que, seja por incapacidade digestiva, paladar seletivo, alergia ou intolerância, não conseguem consumir todos os nutrientes que precisam somente com os alimentos. E, usá-los como um “tapa buraco” não vai melhorar a condição de saúde de ninguém”, completou.
Riscos
Apesar de um forte aliado da saúde, o uso de suplementos alimentares devem ser usado com cuidado para não causar danos graves a saúde do usuário. Ou seja, há restrições, como salienta o doutor Barcelos.
“As proteínas não devem ser utilizadas por pessoas que têm doença renal crônica. Vamos imaginar que esse paciente tenha uma doença renal no caso. Ele pode até ter indicação para a creatina, mas ele não pode usar, ele tem uma contraindicação formal. Qualquer excesso de proteína, qualquer sobrecarga, pode agravar um problema renal pré-existente”, explicou.
No entanto, ele ainda ressalta que esse cuidado se deve por causa de um problema já preexistente. “O consumo excessivo de proteínas, assim como o uso de suplementos com base proteica, como o whey protein, como a própria creatina, não fazem mal para as pessoas que têm o rim saudável”.
Alerta do Ozempic
Apesar de não ser um suplemento alimentar, o medicamento Ozempic vem se tornando popular entre as pessoas que querem perder peso. Ele funcionaria como uma espécie de inibidor de fome. O tratamento foi testado inicialmente para o tratamento de pessoas com diabetes tipo 2, e logo depois, para tratamento de pessoas com obesidade.
“O Ozempic não é um remédio que diminui a glicose ao ponto de causar o que a gente chama de hipoglicemia. É um anti-hiperglicemiante, no caso. Só faz a glicose da pessoa com diabetes, que é uma glicose alta, normalizar, mas é incapaz de fazer com que o açúcar fique em baixas taxas no sangue. Ao contrário da insulina, por exemplo, que faz a pessoa ter hipoglicemia, que a pessoa pode desmaiar, convulsionar, passar mal, até morrer, se ficar em um coma hipoglicêmico, ela pode até morrer”, explicou doutor Barcellos.
Ainda ressalto que é “uma medicação segura”, porém, há riscos na automedicação. “Existe um problema no nosso país? que é a pessoa poder comprar um remédio como este sem receita. O tratamento da obesidade envolve muito mais do que utilizar um remédio. Primeiro lugar, envolve perda e manutenção de peso. Ou seja, não adianta só emagrecer, porque a tendência é ganhar tudo de volta depois”, continuou.
O médico ainda salienta que os remédios para obesidade funcionam, mas que isso deve ser bem conversado com o médico, nutricionistas e outros profissionais na busca por alinhar saúde, exercícios físicos e hábitos alimentares.
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