Na contramão da produção geral brasileira, que recuou em março de 2020, tanto quando comparado com o mês anterior, quanto com março de 2019, o mercado brasileiro de alimentos para fins especiais apresentou crescimento em qualquer uma das duas situações.
Esses resultados constam na Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) Brasil do mês de março deste ano, na qual toda a economia brasileira e mundial estava sob forte impacto da pandemia da COVID-19. Segundo o estudo, a produção industrial brasileira sofreu redução de 9,1% em comparação a fevereiro de 2020 e queda de 3,8% em comparação com março do ano anterior. Ao mesmo tempo, o mercado brasileiro de alimentos para fins especiais cresceu 4,9% em comparação com março de 2019 e 3,4% no primeiro trimestre de 2020 quando comparado com igual período de 2019.
O que pode tornar este dado ainda mais interessante para os fabricantes nacionais, é que, mesmo com crescimento nas vendas, as importações de alimentos para fins especiais decresceram em 10% no primeiro trimestre de 2020, quando comparado com o mesmo período de 2019.
Em cenário diferente encontra-se o mercado nacional de bebidas dietéticas ou de baixas calorias, com queda nas vendas de 12,4% em relação a março de 2019 e de 1,5%, se considerado o primeiro trimestre deste ano comparado com o do ano anterior, o que pode ser explicado pelo fechamento de bares e restaurantes pelo isolamento social. E, ainda, essa categoria verificou um aumento de 65% nas importações no trimestre, quando comparado com 2019.
Se somadas as duas categorias, a balança comercial fechou o primeiro trimestre do ano em US$ 27 milhões negativos, contra US$ 14 milhões negativos do primeiro trimestre de 2019, um aumento de 87%, o que pode ser parcialmente explicado pela cotação do dólar.
Se por um lado, a pandemia de COVID-19 esfriou a economia de modo geral, alguns produtos tiveram aumento na procura, como é o caso da alimentação enteral. No fechamento desse texto, as mortes por COVID-19 ainda estavam acima de 10.000 por dia no mundo, o que demonstra uma realidade triste e ainda longe de seu encerramento. Pelas estatísticas mundiais e confirmadas no Brasil, somente 20% das pessoas contaminadas precisam de internação e, dependendo da fonte, de 5% a 15% precise ocupar um leito de UTI. Segundo a Associação de Médicos Intensivistas do Brasil – AMIB, cerca de 15% dos pacientes de COVID-19 na China foram para UTIs, enquanto a Sociedade Brasileira de Infectologia (SIB) estime que esse número seja de 5% no Brasil. Mesmo com tal amplitude, trata-se de elevado número de pessoas utilizando UTIs simultaneamente e com prazo longo frente à média de ocupação desses leitos – fala-se em 10 dias em média de UTI para pacientes de Coronavírus.
Segundo artigo de Hyeda e da Costa (2017), em uma amostra de 301 contas hospitalares, vinculadas à operadora de saúde, 17,3% dos custos de internação em UTI por doença pulmonar crônica são referentes à alimentação enteral. É difícil fazer uma estimativa precisa do valor movimentado em alimentação enteral nas UTIs nesses dias, pois, há informações de repasses superiores a R$ 4.000,00 por dia em hospitais privados e inferiores a R$ 700,00 ao SUS. De qualquer maneira, com os leitos de UTIs utilizados em quase sua totalidade, como foi o caso da capital paulista em meados de maio, é fácil se prever um aumento acentuado na comercialização desse produto.
Mas, apesar de ainda não perceptível, provavelmente os alimentos para fins especiais + dietéticos e de baixa caloria, bem como de edulcorantes, devem perceber um aumento com a pandemia atual. Isso porque diabéticos e obesos são grupos de risco independentemente da idade, o que pode levar essas pessoas a consumirem mais alimentos com calorias reduzidas e/ou sem glicose.